Ciência
19/08/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 19/08/2024 às 14:00
Embora as pesquisas por sinais de vida em Marte continuem infrutíferas, uma equipe de geofísicos descobriu “um lugar que deveria, em princípio ser capaz de sustentar a vida”, segundo Michael Manga, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, e coautor de um estudo recente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.
Usando registros de atividade sísmica coletados pela sonda espacial robótica InSight Lander da NASA, entre os anos de 2018 e 2022, os autores encontraram evidências de um gigantesco reservatório subterrâneo de água líquida em Marte. Segundo o estudo, a quantidade de água é suficiente para preencher todos os oceanos existentes na superfície do planeta vermelho com uma camada entre um e dois quilômetros.
A má notícia é que o líquido vital está preso dentro de uma camada intermediária da crosta marciana composta predominantemente por rochas ígneas (formadas por magma resfriado e solidificado), a uma profundidade entre 11,5 a 20 quilômetros. Isso significa que, se um dia conseguirmos desenvolver essa capacidade de perfuração, o lugar pode se revelar promissor para buscar vida.
A metodologia de pesquisa incluiu dados sismológicos coletados pela In Sight com registros de "martemotos" de magnitude até 5, que reverberaram pelo planeta devido a impactos de meteoros e mudanças na atividade vulcânica.
Esses dados serviram para alimentar um modelo matemático usado na Terra para procurar aquíferos e depósitos de petróleo. Para Manga, o mapeamento do interior do planeta vermelho revelou "a espessura da crosta, a profundidade do núcleo, sua composição, e até mesmo um pouco sobre a temperatura dentro do manto".
Esses dados sugerem que, ao contrário da hipótese de que a água marciana teria escapado para o espaço há bilhões de anos, ela, na verdade, se infiltrou na costa planetária, onde está retida até hoje. De acordo com a equipe, o grande volume de água está misturado com rochas ígneas fragmentadas, como uma gigantesca colcha de retalhos, compara Manga.
Para o primeiro autor do artigo, Vashan Wright, então doutorando da UC Berkeley, o estudo foi "um ponto de partida útil", pois conseguiu identificar onde a água está e qual a sua quantidade. Para ele, "entender o ciclo da água marciana é essencial para entender a evolução do clima, da superfície e do interior".
Partindo do princípio que a água é necessária para a vida, como a conhecemos, diz Manga, "não vejo por que [o reservatório subterrâneo] não seria um ambiente habitável". Afinal, dizer que minas profundas abrigam vida, e que o fundo do oceano também, é uma verdade cristalina na Terra, conclui o geofísico.