Ciência
07/11/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 07/11/2024 às 03:00
Um fenômeno que tem intrigado geólogos há uma década, as crateras misteriosas do permafrost siberiano, foi explicado em um estudo recente realizado por pesquisadores das universidades de Cambridge, no Reino Unido, e Granada, na Espanha. Segundo a pesquisa, os buracos, que têm dezenas de metros de largura e profundidade, resultam de explosões mecânicas causadas por rachaduras no solo congelado.
Publicado na revista Geophysical Research Letters, o estudo concluiu que o aquecimento climático global tem afetado a geologia peculiar da região.
O grande volume de água derretida na superfície do gelo começa a descer, impulsionada pela pressão osmótica (que leva a água a se deslocar para uma região com mais sal/solutos dissolvidos) de uma região chamada criopeg. Essa água racha o solo e libera o metano contido em cristais de gelo, que explode.
Sem qualquer evidência de explosão causada por reações químicas, os autores afirmam que o "estopim" dessas explosões físicas é a osmose, um processo físico-químico natural que leva qualquer líquido a se mover para equalizar a concentração de substâncias dissolvidas nele.
No caso da água salgada, quando há uma barreira entre a água e o sal, a pressão aumenta no lado salgado e a água flui para lá. Nessa região, a própria Península Yamal funciona como uma barreira osmótica, ou funcionava até a chegada do aquecimento global. Agora, uma de suas camadas superficiais descongela e recongela sazonalmente.
Mas existem mais camadas: os criopegs, que são estratos de água salina descongelada com mais ou menos um metro de espessura distribuídas ao longo da tundra e incorporadas ao permafrost. Finalmente, abaixo de tudo isso, há cristais de água e metano (hidratos), que ficam estáveis devido a uma combinação de alta pressão e baixa temperatura ambiente.
Segundo os autores, quando a camada ativa derrete, ela "mergulha" para dentro do criopeg impulsionada pela pressão osmótica. Só que, lá dentro, não tem espaço suficiente para conter toda aquela água derretida, o que aumenta a pressão interna. A consequência são rachaduras no gelo, que vão em direção à superfície.
Isso causa uma inversão no gradiente de pressão, pois o solo rachado provoca uma queda abrupta na pressão na profundidade. Essa mudança rompe a estrutura cristalina dos hidratos de metano, que libera o gás. Essa liberação súbita sob pressão causa a explosão física, como uma rolha de espumante gigantesca saltando da garrafa.
Embora seja um fenômeno raro, alerta a primeira autora do artigo, Ana Morgado, da Universidade de Cambridge, “a quantidade de metano que está sendo liberada pode ter um impacto muito grande no aquecimento global”.