
Ciência
28/10/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 28/10/2024 às 18:00
Arqueólogos fizeram uma descoberta inesperada ao longo da costa de Pozzuoli ao localizar as ruínas submersas de um templo de 2 mil anos, construído por comerciantes nabateus, vindos do norte da Arábia. Essa civilização marcou presença no Mediterrâneo no auge do Império Romano, e deixou esse templo dedicado ao deus Dushara como símbolo de sua fé e cultura em terras estrangeiras.
A estrutura foi identificada enquanto pesquisadores mapeavam o fundo do mar, trazendo assim novas perspectivas sobre o impacto dos nabateus na antiga Puteoli (atual Pozzuoli), o maior porto romano da época.
A localização do templo e suas inscrições em latim, como “Dusari sacrum” ("consagrado a Dushara", em português), reforçam a presença nabateia na região, já que o deus Dushara era a principal divindade dessa civilização.
Além disso, em sua época, Puteoli era um ponto estratégico onde mercadores de todo o império atracavam para comercializar bens de luxo, como ouro e perfumes, itens que os nabateus eram especialista em negociar. Dessa maneira, é compreensível que os nabateus tenham construído esse local sagrado, afinal, eles estavam por lá o tempo todo.
Com arquitetura romana, paredes em mármore e altares dedicados ao deus árabe, o santuário representa uma interessante fusão entre culturas romana e nabateia, unindo em uma mesma estrutura duas tradições aparentemente distintas.
Porém, a descoberta do templo submerso traz consigo o mistério do seu abandono. Depois da anexação do reino nabateu pelo imperador Trajano, em 106 d.C., mudanças profundas impactaram a vida dos mercadores nabateus na Itália. Com a região agora sob controle romano, a autonomia comercial dos nabateus se perdeu, e a nova administração preferiu absorver as rotas de comércio para fortalecer o sistema econômico do império.
Isso, possivelmente, fez com que os nabateus encerrassem suas atividades na cidade portuária e, como indica o estudo, abandonassem o templo, deixando-o intocado ao longo dos séculos. Mais tarde, a estrutura foi soterrada, talvez em um ato de respeito à sacralidade daquele espaço, preservando-o em silêncio por dois milênios até a recente descoberta.
A história do templo ilustra como a civilização nabateia estava intrinsecamente ligada ao mar Mediterrâneo. Originalmente nômades, os nabateus desenvolveram uma vasta rede de comércio que conectava o Oriente Próximo e o Império Romano, acumulando riqueza e influência, especialmente por meio de produtos luxuosos.
O templo em Pozzuoli destaca como os nabateus não apenas participavam do comércio, mas também integravam suas práticas religiosas ao cotidiano do porto romano, até porque eles estavam a centenas de quilômetros de casa. A existência desse templo era primordial para o culto a Dushara e também servia como um espaço cultural para esse povo.
Em Petra, sua capital esculpida na rocha e uma das grandes maravilhas do mundo antigo, seu poder e cultura floresceram. Trazer esses traços culturais para Puteoli, onde estabeleceram um centro de adoração a Dushara, mostra a dimensão e importância do seu contato com Roma e sua habilidade em manter tradições ao longo de rotas comerciais.
Ainda há muito a ser desvendado sobre o templo submerso de Pozzuoli, e os arqueólogos planejam novas escavações para 2024. O objetivo é continuar explorando a história dessa estrutura e entender melhor como os nabateus conciliavam sua fé e suas tradições com o ambiente romano.