Estilo de vida
26/07/2021 às 07:20•2 min de leitura
No último sábado (24), novamente a estátua de Borba Gato, situada na zona sul da cidade de São Paulo, foi alvo de depredações. Desta vez, um grupo de pessoas decidiu atear fogo ao monumento, erguido para homenagear o bandeirante. Mas qual é a razão de tanta rejeição a esse personagem da história brasileira?
Manuel de Borba Gato (1628-1718) foi um dos mais conhecidos e bem-sucedidos bandeirantes, tendo desempenhado um importante papel no processo de exploração de outras regiões do país pelos paulistas entre os séculos XVI e XVII.
Imagem falsa e romantizada de Borba Gato.
Borba Gato sempre esteve envolvido com os desbravadores e chegou a se casar com Maria Leite, filha de Fernão Dias, outro importante bandeirante. Aliás, ele fez parte do grupo criado por Dias para sair em expedição pelo país em busca de pedras de esmeralda. Um dos feitos mais importantes na trajetória de Borba Gato foi a descoberta do filão de ouro nas minas da região de Sabará, no Estado de Minas Gerais.
Outros nomes comuns são os de Antônio Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Bartolomeu Bueno da Veiga e Manuel Preto, importantes bandeirantes que partiram em expedições para o interior da América do Sul em busca de riquezas como ouro, esmeraldas e prata.
Muitos consideram essenciais as iniciativas desses personagens históricos, afinal em vários casos contribuíram para o aumento territorial do país no período colonial, assim como de suas riquezas. No entanto, os bandeirantes não se deslocavam para zonas desconhecidas apenas em busca de pedras e metais preciosos. Entre as atribuições desses grupos, também constavam o extermínio de quilombos e a captura de indígenas para serem escravizados.
Lançado em 1929, o livro Vida e Morte do Bandeirante, do pesquisador Alcântara Machado, é composto de relatos detalhados sobre como os grupos de bandeirantes capturavam e mandavam para a escravidão negros e indígenas que encontravam em suas viagens. Como resultado desse processo, etnias inteiras foram dizimadas em confrontos violentos.
Nomes de bandeirantes, como Fernão Dias, Borba Gato e Raposo Tavares, são facilmente encontrados em ruas, avenidas e monumentos no Estado de São Paulo. Nunca foi segredo o objetivo das expedições e as mortes que elas causavam por onde passavam. Contudo, os bandeirantes passaram a ter outro papel com a Revolução de 1932, um movimento liderado pela oligarquia paulista que exigia uma nova constituição e atacava o autoritarismo de Getúlio Vargas.
As lideranças da época precisavam de algo que despertasse na população um sentimento de união e identidade. E é aqui que entra em cena o bandeirante Borba Gato, que passou a ser lembrado e homenageado como herói, ganhando enorme peso como símbolo paulista. Com isso, a história de 300 mil indígenas capturados e escravizados, assim como das mortes ocorridas, da destruição de quilombos e dos confrontos sangrentos provocados pelas bandeiras, foi deixada de lado.
Estátua de Borba Gato em chamas.
A estátua de Borba Gato incendiada no último fim de semana foi inaugurada em 1963. Com a redescoberta dos feitos negativos desta e de outras personalidades do passado, vários grupos começaram a questionar qual é o valor ou a necessidade de manter algo como homenagem a alguém cuja história envolve sangue, morte e destruição. Algumas iniciativas estão surgindo, como projetos de lei para a retirada de monumentos, bem como troca de nomes de ruas e avenidas cuja origem são personagens com atitudes reprováveis.