Ciência
03/12/2022 às 13:00•2 min de leitura
Em 19 de setembro de 1910, um homem chamado Clarence Hiller morreu assassinado por um assaltante na porta de sua casa, em Chicago. O assassino, Thomas Jennings, havia recebido sua liberdade condicional seis semanas antes. Mas este caso criminal entrou para história por uma razão específica: Jennings havia deixado uma marca de dedo na grade recém-pintada que se apoiou para subir até a casa dos Hiller.
A prova foi usada em seu julgamento. A polícia fotografou e cortou a grade, argumentando que isso provaria a identidade do ladrão. Assim, aquela se tornou a primeira condenação em que a impressão digital serviu como prova em um tribunal.
(Fonte: Chicago Sun-Times/Chicago Daily News collection/Chicago History Museum/Getty Images)
As impressões digitais começaram a ser estudadas no final do século XIX por um sujeito chamado Francis Galton, que era antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês. Ele propôs que a "identidade" dos dedos fosse avaliada com base nos arcos, voltas e espirais que elas "imprimiam" onde tocavam. Suas ideias sobre o assunto foram registradas no livro Finger Prints, de 1892.
Galton, no entanto, acabou entrando para a história também porque se desconfia que muitos de seus estudos eram poucos científicos e focados em preceitos racistas. Ele escreveu que acreditava que as impressões digitais poderiam revelar as raças das pessoas pelos dedos. No entanto, ele acabou não encontrando nenhuma prova disso.
Historiadores destacam que o interesse de Francis Galton pelas impressões digitais se relacionam com os princípios colonialistas da época. “As impressões digitais foram originalmente introduzidas para os europeus distinguirem entre a massa indistinguível de povos extra-europeus, que produziram impressões digitais 'indecifráveis'”, escreveu a jornalista Ava Kofman.
Não por acaso, ao longo de sua carreira, Galton se envolveria em estudos que avaliavam diferenças raciais por medidas numéricas supostamente científicas. Mas o fato é que o sistema criado por ele foi adotado pela polícia e logo se espalhou para outros lugares. Em 1904, durante a Feira Mundial em St. Louis, a Scotland Yard enviou representantes para demonstrar a técnica, que estava se tornando mais popular nos tribunais britânicos.
(Fonte: Rare Historical Photos)
A técnica de coleta desta prova no julgamento de Thomas Jennings foi exatamente como era descrito por Francis Galton. Os advogados de defesa do suspeito tentaram levantar questões sobre este método, que ainda era desconhecido. No entanto, o tiro saiu pela culatra, já que a impressão digital do advogado que questionou o método foi também retirada e comparada com a encontrada na grade.
O argumento da acusação era que as impressões digitais nunca se repetiam. Isto foi comprovado com a retirada de impressões de pessoas da plateia, evidenciando que a premissa era verdadeira.
Por consequência, o júri votou em unanimidade para que Jennings fosse considerado culpado, e ele foi condenado à morte por enforcamento. O jornal Decatur Herald escreveu que aquela era “a primeira condenação em evidências de impressão digital na história deste país”, e acrescentou, de forma inspirada: “o assassino escreveu sua assinatura quando pousou a mão na grade recém-pintada da casa dos Hiller.”