Ciência
26/08/2023 às 14:00•2 min de leitura
Esse ano estreia O Exorcista: O Devoto, a continuação do clássico filme de 1973, responsável não só por estabelecer o gênero de terror sobrenatural na indústria cinematográfica como fomentar a ideia do "pânico satânico", que se espalhou pelo mundo entre as décadas de 1980 e 1990.
Muito mais do que a aparência perturbadora da atriz Linda Blair, que interpretava a protagonista Regan MacNeil, o que aterrorizou plateias pelo mundo era a imagem e a história da entidade demoníaca que possuiu a garota. Pazuzu, o demônio do filme O Exorcista, existe e era adorado na Mesopotâmia como uma entidade maligna que controlava o vento, protegia as mulheres e crianças.
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Pazuzu em O Exorcista, de 1973. (Fonte: Hoya Productions/Warner Bros. Pictures/Reprodução)
Pazuzu consta na história desde o primeiro milênio a.C., na antiga religião assíria e babilônica. Ele era chamado de "o rei dos demônios do vento", uma entidade maligna dicotômica que trazia fome, pestilência e destruição, ao mesmo tempo que afastava outros tipos de demônios ao ser invocado como forma de proteção a mulheres grávidas e crianças.
Normalmente, os povos mesopotâmicos antigos clamavam ao seu nome para se protegerem do demônio Lamashtu, conhecido por assassinar cruelmente crianças pequenas e em gestação.
A dicotomia de sua natureza parece mais forte devido à propagação do cristianismo, que associou o significado da palavra "demônio" a criaturas descendentes de Satanás, baseadas no Inferno e que exercem sua vontade maligna sobre os humanos da Terra.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Para os antigos assírios e babilônicos, no entanto, "demônio" simplesmente significava "espírito". Inclusive, a própria palavra deriva de daimon ("espírito" em grego) referindo-se a seres imortais menores que atuam como intermediários sobrenaturais entre deuses e humanos. Os demônios poderiam ser enviados tanto para punir os mortais quanto encorajá-los.
Portanto, nem todos os demônios eram necessariamente maus e, mesmo aqueles que eram, possuíam várias camadas complexas que constituíam sua personalidade e natureza. Os povos antigos tentaram compensar o poder destrutivo de Pazuzu oferecendo-lhe orações, na esperança de que ele contivesse os ventos e os usasse para propósitos mais benevolentes.
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(Fonte: Hoya Productions/Warner Bros. Pictures/Reprodução)
Em nada o rosto maquiado da atriz Eileen Dietz, que interpretou Pazuzu em O Exorcista de 1973, se parece com a representação iconográfica dele. A cabeça da entidade possui uma forma mais retangular, com chifres, sobrancelhas espessas, barba de duas pontas e uma bocarra aberta em forma de canino exibindo os dentes e a língua.
A primeira evidência arqueológica mais antiga de Pazuzu foi descoberta no túmulo de uma mulher perto Iraque, e remonta ao século VIII a.C. Essa foi a primeira iconografia mesopotâmica conhecida por fundir vários componentes animais em uma só representação. Antes de Pazuzu, normalmente a iconografia apresentava apenas uma única parte do corpo de um animal no corpo humano.
Até hoje é difícil para os arqueólogos determinar a origem do demônio mesopotâmico. Afinal, diferente de outros seres sobrenaturais ao longo da história, não há vestígios reais de como a iconografia de Pazuzu evoluiu. Com base nos registros arqueológicos, as representações dele simplesmente apareceram totalmente do nada.
Sendo assim, os historiadores não conseguem identificar um local ou momento preciso em que essas representações ganharam forma.