Estilo de vida
23/09/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 23/09/2024 às 03:00
Um mistério que vem intrigando arqueólogos desde que a icônica Catedral de Notre-Dame queimou em 2019 pode ter sido solucionado: a identidade dos corpos enterrados no subsolo do templo, em dois caixões de chumbo, descobertos sob as ruínas do incêndio. Embora sejam ambos muito antigos, estão separados entre si por centenas de anos.
Usando equipamentos de proteção individual para se proteger da toxicidade do chumbo, pesquisadores da Universidade de Toulouse abriram com cuidado os dois sarcófagos. Em ambos havia restos mortais de dois homens ricos que tiveram provavelmente problemas de saúde.
O trabalho de pesquisa foi facilitado porque o primeiro caixão veio com um epitáfio, onde se lê: “Este é o corpo do Sr. Antoine de La Porte Cônego da Igreja. Falecido em 24 de dezembro de 1710 aos 83 anos. Descanse em paz”.
A equipe de arqueólogos explicou, em entrevista à Live Science, que De la Porte era um cônego, padre que se dedica às funções mais litúrgicas de uma catedral, e, por isso foi sepultado na área central do transepto, que é a parte transversal de uma igreja em forma de cruz.
Nesse local eram enterrados alguns figurões da igreja, como bispos, abades e beneméritos. Durante sua vida, o religioso foi muito influente e rico, e encomendou várias pinturas que estão atualmente no Museu do Louvre, além de financiar o coro da catedral.
O objetivo de enterrar pessoas em caixões de chumbo era ajudar a preservar o corpo, método disponível apenas para os ricos da época. No caso de De La Porte, a coisa não funcionou, pois o caixão não estava intacta, e o corpo se deteriorou bastante, deixando só ossos, cabelos e pedaços de tecido. Os ossos mostraram que ele levava um estilo de vida sedentário, e sofria de gota, uma doença inflamatória.
O ocupante do segundo caixão era possivelmente um aristocrata, entre 25 a 40 anos, e que andava a cavalo, segundo a equipe, pela aparência dos seus ossos pélvicos. A estrutura óssea sugere que ele teve uma doença crônica.
O esqueleto mostrou sinais de um crânio deformado, possivelmente por usar alguma faixa na cabeça quando bebê. A parte de cima do crânio estava serrada, uma espécie de distinção dada aos nobres do século 16.
Uma análise mais acurada levou a equipe a supor que o corpo possa pertencer ao poeta francês Joachim du Bellay, que viveu de 1522 a 1560, era tuberculoso e morreu provavelmente de uma meningite crônica. A hipótese de que o corpo pertence a du Bellay traz um mistério adicional, pois segundo os registros funerários ele teria sido enterrado em uma capela lateral.