Ciência
27/01/2023 às 13:00•3 min de leitura
Infelizmente, a pandemia de covid-19 foi terreno fértil para a disseminação de farsas médicas e fake news que brincavam com a saúde das pessoas: remédios e receitas caseiras sem eficácia contra o vírus, teorias conspiratórias sobre a origem da doença e por aí vai...
Contudo, a invenção de histórias mirabolantes envolvendo a medicina começou bem antes da pandemia. Na verdade, faz séculos que farsas médicas bizarras circulam de boca em boca, por veículos de comunicação e, agora, pela internet. Confira algumas das mais curiosas.
Não é só na televisão brasileira que temos programas sensacionalistas.
Nos Estados Unidos, um desses programas era o Phil Donahue Show, que falava sobre vários assuntos polêmicos na sociedade. Numa tarde de 1985, o assunto era idosos homossexuais — e algumas pessoas na plateia começaram a desmaiar.
Tudo começou com uma mulher capotando enquanto dava sua opinião para o apresentador, seguida por mais sete pessoas na plateia. Donahue cogitou que as altas temperaturas dentro do estúdio ou as luzes poderiam ser as responsáveis pelos desmaios.
Na verdade, tudo não passava de uma armação de um grupo que queria protestar contra o sensacionalismo na TV. O nome do grupo era "Fight Against Idiotic Neurotic Television" — ou "Luta Contra a Televisão Idiota e Neurótica". A sigla, FAINT, significa exatamente "desmaio".
Fonte: Shutterstock
Notícias envolvendo "as pessoas mais velhas do mundo" sempre chamam atenção. Afinal, nós queremos saber como elas conseguiram chegar aos 100 ou 110 anos — e ainda com saúde, em alguns casos. Imagine, então, descobrir que há uma vila com centenas dessas pessoas.
Foi dessa forma que Vilcabamba, no Equador, atraiu os cientistas e o noticiário internacional, na década de 1970. Dizia-se que era comum passar dos 100 anos por lá e existiam pessoas chegando até aos 134! Até a prestigiada revista National Geographic publicou um artigo sobre a cidade — mas ninguém conseguia descobrir porque as pessoas lá viviam tanto.
O frenesi em torno de Vilcabamba só teve fim em 1978, quando dois cientistas estadunidenses fizeram uma pesquisa na cidade e descobriram que a super-longevidade não passava de mito. Nenhuma pessoa em Vilcabamba tinha mais de 100 anos: a idade média dos "centenários" era 86. E um homem que dizia ter 127, na verdade tinha 91.
É bastante? Sim. Mas bem menos do que a farsa apontava.
Imagem: Reprodução
Se usar óculos emagrecesse, eu, que os uso desde criancinha, nunca teria engordado. Mas, por algum motivo, muita gente nos Estados Unidos acreditou na promessa dos óculos Vision-Dieter. A ideia era que, modificando as cores, os óculos fariam as comidas parecerem menos atrativas. Comendo menos, você emagreceria.
Não demorou muito para a Food and Drug Administration, espécie de Anvisa dos EUA, tirar os óculos Vision-Dieter de circulação. Mas, até hoje, as pessoas inventam todo tipo de farsa sobre emagrecimento.
Fonte: LiveScience/Reprodução
Embora existam alguns exemplos de híbridos entre espécies na natureza, eles só acontecem entre animais semelhantes, como felinos ou equídeos. Além de impossível, a reprodução entre um cachorro e um humano seria, no mínimo, antiética.
Ainda assim, uma história como essa circulou há alguns anos. Dizia-se que pesquisadores de Israel estavam estudando o cruzamento de humanos com cães da raça labrador. Eles teriam descoberto que isso não era impossível ao encontrar os restos mortais desse híbrido em uma cova rasa. Então, já que isso tinha ocorrido na natureza, eles iriam reproduzir em laboratório.
O texto era acompanhado pela imagem acima — uma fêmea meio humana, meio cachorro (ou porco) amamentando seus filhotes. Porém, a história não passava de farsa e a imagem era de uma escultura da artista Patricia Piccinini.
Fonte: Shutterstock
Para terminar, uma fake news na qual muita gente ainda acredita... Tudo começou em 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um artigo afirmando que 12 crianças tinham desenvolvido autismo e doenças no intestino, após tomarem vacinas contra sarampo.
Já em 2000, o respeitado periódico Lancet, que publicou o artigo de Wakefield, revelou que essas pesquisas eram totalmente falsas. Depois disso, o homem foi considerado inapto para exercer a profissão, pelo Conselho Geral de Medicina do Reino Unido. Mesmo desmentida, a pesquisa falsa ainda circula por aí.