Ciência
03/05/2021 às 09:30•4 min de leitura
O noticiário internacional explica tudo que acontece nos Estados Unidos e na Europa, recebemos as novidades mais importantes da Ásia por correspondentes em Tóquio ou Pequim, aqui no Brasil, sabemos muito sobre nossos vizinhos sul-americanos. Mas com que frequência recebemos notícias sobre El Salvador? De todos os mais de 200 países do mundo, esse talvez esteja entre os que menos rendem assunto.
Porém, nos últimos dias, esse pequeno país da América Central tomou conta das manchetes por causa de suas reviravoltas políticas.
O jovem presidente, Nayib Bukele, foi eleito em 2019 com forte discurso populista de ser contra os dois partidos, de esquerda e direita, que se alternavam no poder há quase três décadas. Ele próprio não tem uma ideologia formada, mas fala muito em mudança e tem um jeitão bem midiático: fala tudo o que pensa, demite ministro pelo Twitter e faz aparições públicas com boné virado para trás.
Por outro lado, Bukele parece querer fazer tudo do seu jeito, desconsiderando os rituais e regras de qualquer democracia, o que lhe rendeu atritos com o Congresso e Judiciário e críticas de outros países.
Em março de 2021, o Novas Ideias (NI), partido fundado pelo presidente, ganhou as eleições legislativas de lavada: 56 dos 84 deputados são desse partido, que não é de esquerda, nem de direita, muito menos de centro — é o partido do Bukele. Aí não demorou para o presidente aproveitar essa maioria: em maio, os deputados aprovaram a demissão dos cinco ministros da Suprema Corte e do Procurador-Geral da República e colocaram pessoas favoráveis a Bukele no lugar. Na prática, ele manda em tudo.
O presidente até pode ser bem intencionado: fechou tudo na pandemia, deu auxílios bons para sua população e está correndo atrás de vacinas. Ele até foi convidado de destaque em conferências de líderes mundiais, algo que nunca aconteceu com esse pequeno país da América Central. Mas não é assim que as democracias funcionam, né?
Os três poderes existem justamente para fazer freios e contrapesos, de modo que nenhum mande em tudo sozinho... Por isso, a manobra de Bukele recebeu críticas de diplomatas de outros países, incluindo os Estados Unidos.
Finalizado o resumão da política, explicando porque o país está nas manchetes, vamos falar de algumas curiosidades para você conhecer El Salvador.
El Salvador talvez tenha pouco destaque no noticiário internacional por ser um país bem pequeno: são 21 mil quilômetros quadrados de área, quase a mesma área de Sergipe, o menor estado do Brasil. Porém, a população é de 7 milhões de pessoas, fazendo dele o país mais densamente povoado das Américas.
Fonte: WikiVoyage
Desses 7 milhões de pessoas, quase um terço vive nos arredores da capital, San Salvador. Porém, o país ainda tem uma população rural relativamente grande: 36%, contra 16% do Brasil, por exemplo. O café do país é mundialmente famoso e sua economia é a terceira maior da América Central, depois da Costa Rica e Panamá.
Mas isso não quer dizer que El Salvador seja uma rica potência do agronegócio. Na verdade, há mais de 3 milhões de salvadorenhos vivendo fora do país, especialmente nos Estados Unidos, e as remessas de dinheiro dessas pessoas são um dos principais sustentos de El Salvador. 19% das pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.
Fonte: Wikimedia Commons
Mesmo sem tanta área, El Salvador tem uma geografia interessante: para começar, ele é o único país da América Central que não tem saída para o Mar do Caribe. Sua costa fica todinha no Pacífico, com 307 km de extensão (a do Brasil tem 9.200 km). O país tem em torno de 500 km de fronteiras, com Guatemala e Honduras.
Por outro lado, o país tropical tem grandes montanhas com... vulcões. São 20 deles, dois ainda ativos e causando estragos no interior do país. Já houve neve topo da montanha mais alta, o Cerro El Pital, de 2.730 metros de altura (foto abaixo).
Fonte: Wikimedia Commons
Assim como a maioria dos outros países da América, El Salvador foi colonizado pela Espanha e tem seu idioma como oficial até hoje. A independência foi proclamada em 15 de setembro de 1821, cerca de um ano antes da nossa (quadro abaixo).
Além de "salvadorenhos", que é o gentílico oficial, os habitantes do país costumam se chamar de "guanacos" — um termo informal, que tem a ver com a história do país.
Fonte: Wikimedia Commons
Antes do atual governo, a última vez que El Salvador teve tanto destaque no noticiário internacional foi durante sua Guerra Civil. Ela começou em 1979, depois que um Golpe de Estado depôs o presidente e instalou uma Junta Civil-Militar no poder. Essa junta começou a reprimir opositores e a gota d'água foi a morte de um arcebispo. 42 pessoas foram mortas em protestos contra o governo, por causa desse assassinato.
A partir daí, o governo, grupos paramilitares de extrema-direita e guerrilhas de esquerda lutaram até 1992, com apoio dos Estados Unidos de um lado e da União Soviética do outro, dentro do contexto da Guerra Fria. Os dois lados formam os partidos ARENA e FLMN (Frente Farabundo Marti para a Liberação Nacional), de direita e esquerda, que se alternaram no poder desde então — abrindo espaço para o populismo de Bukele.
Fonte: Wikimedia Commons
Outro fato curioso da história do país, que também é relacionado a conflitos bélicos, é a chamada "Guerra do Futebol". Mas por mais folclórico que isso pareça, a verdade é que o esporte foi só um pretexto para uma luta que já vinha de muito tempo.
Isso porque El Salvador era um país pequeno, mas mais populoso que Honduras. Muita gente migrou de um país para o outro durante o século XX, causando disputas de terra. Até que, nos anos 1960, o governo de Honduras tirou muitos direitos dos camponeses salvadorenhos e confiscou terras, para defender os latifundiários e empresas dos EUA.
Foi assim que os dois times chegaram às eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. As duas partidas, uma em Tegucigalpa e outra em San Salvador, já causaram brigas. Um desempate aconteceu na Cidade do México, com mais carnificina. Foi a desculpa que o exército salvadorenho precisava para invadir o país vizinho.
O conflito terminou em menos de quatro dias, fazendo com que ele também seja chamado de "Guerra de 100 Horas". Milhares de salvadorenhos voltaram a seu país, com condições de vida piores — o que é uma das causas da Guerra Civil citada acima.
Fonte: Globo Esporte/Reprodução
Para terminar esse dossiê sobre El Salvador, você sabe qual é o prato típico do país? Chama-se "pupusa" e é feito com tortilhas de milho ou arroz. Elas podem ser recheadas com "curtido" (um tipo de conserva feita com repolho), "chicharón" (torresmo) ou carne.
Fonte: Recetas Grátis