Artes/cultura
26/09/2021 às 10:00•4 min de leitura
Vaidade, avareza, luxúria, gula, inveja, ira e preguiça. Foi assim que São Tomás de Aquino sistematizou os Sete Pecados Capitais, segundo o cristianismo, estabelecendo também a ideia de que é da natureza do homem nascer no pecado e perecer nele sem conseguir escapar desse contexto cíclico de dívida e sofrimento.
Apesar de ser um conceito muito adotado pelas religiões abraâmicas, o filósofo grego Aristóteles já listava uma série de virtudes e vícios em suas próprias obras, como Ética a Nicômaco e Ética a Eudemo. De acordo com ele, a verdadeira virtude é um ponto equilibrado entre dois extremos: excesso e deficiência.
Já os rabinos no judaísmo discutiam sobre "boa inclinação" e "má inclinação", definidas como yetzer ha-tov e yetzer ha-ra, respectivamente. Para eles, a "inclinação do mal" é uma parte fundamental da natureza humana, que cada pessoa deve enfrentar ao longo de sua vida; mas, segundo a Enciclopédia Judaica, são impulsos que podem ser personificados e associados a figuras malignas, como o Diabo.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
A vaidade sempre foi vista como um dos piores pecados que o homem pode manifestar. No passado, teólogos e filósofos acreditavam que a vaidade era a responsável pelos demais pecados, porque tudo se resume a pensar que você é melhor e mais inteligente do que os demais seres humanos.
Evocando o traço mais marcante que causou a coibição com justo juízo de Satanás e suas hordas para o fundo do Abismo, conforme a Bíblia Sagrada, o orgulho representa a ideia de que a pessoa pode acreditar ser até melhor do que uma divindade ou seus representantes — e que, provavelmente, não vai querer se humilhar aos seus pés ou seguir seus conselhos.
"Em primeiro lugar, o orgulho é um daqueles pecados um tanto vagos que, apesar de sua classificação mortal, é considerado difícil de definir", disse Michael Erick Dyson, professor de Estudos Religiosos e Estudos Africanos na Universidade da Pensilvânia, em entrevista à National Public Radio.
Para ele, o orgulho pode ser aplicado de várias maneiras, indo da arrogância até o desprezo mais cotidiano.
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Sempre descrita como "o cobiçar do que o seu vizinho tem", a ponto de destruir seu relacionamento com qualquer um ao seu redor devido a esse mau olhar, a inveja nem sempre se trata exatamente de desejar algo físico.
No livro Glittering Vices: A New Look At the Seven Deadly Sins and Their Remedies, Rebecca Konydyk DeYoung observa esse pecado como algo um pouco mais "refinado". A inveja pode se referir a querer mais o status associado a algo do que o objeto propriamente dito, como a aclamação e a admiração que podem acompanhar o fato de possuir uma grande mansão.
Joseph Epstein reflete em Envy: The Seven Deadly Sins, publicado pela Universidade de Oxford, que a inveja é um pecado de "sangue frio", mais ligado aos pensamentos de uma pessoa do que aos impulsos passionais.
A inveja é considerada um pecado premeditado, muitas vezes cometido de maneira consciente e por um longo período. Entre todos, é o mais peçonhento.
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Em entrevista à National Public Radio, Simon Blackburn, professor de Filosofia da Universidade de Cambridge, explica que a luxúria é o pecado central da vida humana. E está enganado aquele que acha que o pecado está associado apenas aos desejos carnais desempenhados entre quatro paredes.
Em Bhagavad Gita, o Senhor Críxena diz que: "A luxúria, nascida dentre a paixão, se transforma em ira quando insatisfeita". Ela serve de "porta" para levar a outros pecados, visto que está relacionada à posse e à ganância, duas características presentes na avareza. A luxúria também pode causar uma sensação de superioridade, que acaba levando ao pecado capital da soberba.
Stanford M. Lyman escreve, em The Seven Deadly Sins: Society and Evil (1989), que mesmo as pessoas aparentemente mais inteligentes que vivem uma vida mental bastante ordenada podem ser derrubadas pela luxúria através de seus pensamentos, que as atormentam e são difíceis de controlar.
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Em Mateus 21:12-13, quando Jesus Cristo foi vítima da raiva ao entrar em um templo, virar algumas mesas e perturbar os líderes financeiros que trabalhavam lá, surgiu a reflexão: quando a raiva se torna um pecado mortal?
A ira é um estado acima da raiva, já configurando um desejo não de revolta, mas de morte, e deliberada vontade de ferir gravemente alguém. Contudo, nesse contexto, a ira também pode ser uma revolta contra si mesmo, causando todos os tipos de danos durante uma fúria impensada. É por isso que algumas obras de arte medievais que ilustram esse pecado mostram personagens machucando a si mesmos.
Por vezes, a ira pode dizer mais sobre si mesmo do que sobre outras pessoas.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Na Idade Média, a gula também foi lida pelos líderes da Igreja como o hábito de ser luxuoso com as refeições, comendo muito rápido, de maneira ansiosa e em muita quantidade. Então, desfrutar demais da comida ou não respeitar seu papel no corpo é o suficiente para evocar o pecado mortal da gula.
Alguns comentaristas religiosos acreditam que a gula é ainda pior quando o excesso de indulgência atrapalha a vida espiritual da pessoa, atraindo-a para os pecados da ganância e da luxúria.
A gula é classificada como um pecado de "sangue quente", caracterizado por impulsos animalescos que precisam ser reconhecidos e combatidos.
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O avarento é aquele que não só não quer abrir mão do que tem, como também, consequentemente, quer ter mais. A ganância então se torna seu traço mais marcante entre manter e adquirir.
Lyman escreve em seu livro que o monge e filósofo medieval Roger Bacon desprezava tanto a ganância que a colocou na liderança entre os piores pecados mortais, afirmando que ela é a raiz de quase todas as outras transgressões.
Isso porque a necessidade de ganhar dinheiro e as buscas espirituais se tornaram uma questão cada vez mais difícil à medida que a era medieval avançava para o período da Renascença, tornando os mercadores mais proeminentes.
A avareza foi definida por Tomás de Aquino como outra forma de vaidade, que cresce tão forte com o desejo por bens terrenos que leva o pecador para longe de Deus e da vida espiritual em geral.
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Na Summa Theologica, Tomás de Aquino afirma que a preguiça está relacionada à tristeza pelo bem espiritual, podendo levar alguém ao desespero ou à inatividade. “É uma tristeza opressora que pesa tanto na mente do homem que ele não quer fazer nada”, determinou o santo.
No livro de Lyman, o pecado, que também é conhecido como acédia, está relacionado com o mais puro ócio, bem como com a incapacidade de entender e considerar seu lugar neste mundo.
Então, para o cristianismo surgiu a questão: como um preguiçoso poderia tornar o mundo melhor? O pecado consiste, religiosamente, no fato de desperdiçar uma dádiva: a de viver.
Por outro lado, destinadas a se oporem a todos esses pecados que podem destruir o ser humano estão as Sete Virtudes: fé, esperança, amor, prudência, fortaleza, justiça e temperança.