Estilo de vida
05/01/2022 às 12:00•3 min de leitura
Guerras, colonização e escravidão. Na história universal, encontramos muitos relatos sobre obras de arte e outros bens valiosos que foram tomados de seus países de origem e/ou de seus proprietários.
Da tomada de minérios preciosos pelos colonizadores nos países da América Latina ao confisco de obras de artes pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, casos assim sempre foram tratados pelos países sequestradores como atos legítimos, já que respeitariam as leis vigentes da época.
Um caso que persiste até os dias atuais e é motivo de ruído diplomático entre os envolvidos são as esculturas gregas do Partenon em exibição no British Museum (BM), em Londres.
Frisos teriam sido saqueados da Grécia no início do século XIX. (Fonte: Getty Images)
O Partenon é uma maravilhosa obra da humanidade, o templo foi construído em homenagem à deusa Atena na capital grega há mais de 2 mil anos. Os vestígios arqueológicos dele constantemente retornam ao debate público quando o tema é definir seus verdadeiros donos. Parte importante do templo, os frisos, foram levados da Grécia no século XIX por Thomas Bruce, o conde de Elgin, e ganharam, "em troca", a alcunha de mármores de Elgin.
O conjunto de peças levadas para a Inglaterra e, posteriormente, adquiridos pelos curadores do British Museum é composto de 15 painéis e 17 esculturas de mármore que originalmente decoravam o Partenon — considerado pelos gregos como o principal patrimônio cultural do país.
Nos últimos 2 anos, o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, tenta negociar o retorno dessas peças que, na Grécia, são consideradas roubadas pelo conde inglês. Após um pedido oficial, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson negou a devolução das peças, afirmando que entendia "os fortes sentimentos do povo grego em relação ao tema", mas que as peças "foram legalmente adquiridas por Lorde Elgin sob as leis vigentes na época e são propriedade do Museu Britânico desde sua aquisição".
(Fonte: Getty Images)
Em entrevista ao periódico grego Ta Nea, Johnson assumiu pela primeira vez uma posição pública sobre o assunto desde que assumiu o cargo — é importante frisar que os pedidos de devolução das peças são feitos de maneira constante desde a independência grega no século XIX, mais precisamente do ano de 1832. Acontece que a posição oficial do político britânico e dos curadores do British Museum vem sendo questionada por pesquisadores e especialistas em Arte.
A versão defendida pelo BM afirma que o conde Elgin recebeu um firman — permissão concedida por servidor islâmico do governo no Império Otomano — outorgando a ele as peças de mármore do Partenon, ou seja, houve uma permissão do Sultão para que Elgin imigrasse com as esculturas.
(Fonte: Dreamstime/Reprodução)
No entanto, esse firman não teria sido preservado, restando apenas a tradução italiana de uma carta amigável escrita pelo general turco-otomano Kaimakam Pasha, e não do sultão, permitindo que Elgin fizesse moldes das esculturas sem mencionar a permissão para remoção dos mármores.
Em entrevista à TV estatal grega, a arqueóloga e pesquisadora Elena Korka, também diretora-geral honorária de Antiguidades da Universidade de Atenas, afirmou que a tradução italiana não apenas não autorizava a remoção das peças, como também não é um documento oficial turco-otomano com valor legal.
Sarian Panahi, pesquisador iraniano e um dos poucos estudiosos habilitados em leitura de textos turco-otomanos, é outra autoridade que afirma não existir nada que indique a existência de um firman, o que tornaria a remoção comandada pelo conde britânico um saque.
(Fonte: Plu7)
Essa é uma afirmação corroborada pelos pesquisadores turcos Zeynep Aygen e Orhan Sakin, que estudam há muito tempo documentos oficiais do Império Otomano e afirmam de forma enfática: esse documento pertencente ao British Museum talvez seja uma carta pessoal, informal, mas não uma licença de exportação.