Artes/cultura
21/03/2022 às 12:00•2 min de leitura
Durante documentário gravado em 2016, o jornalista neozelandês David Farrier explorou o submundo da controversa prática do torneio de cócegas, revelada em filmes pelo site Jane O'Brien Media. Suas investigações apontaram estranhas relações internas entre participantes e produtores, assegurando a existência de um lado ameaçador que envolve abuso de poder, cyberbullying e uma grande movimentação financeira nos bastidores.
Vazados esporadicamente na internet, diversos vídeos das competições mostravam jovens do sexo masculino em roupas esportivas fazendo "cosquinhas" um no outro, à medida que são arrastados, segurados e sufocados por outros participantes em verdadeiros testes de resistência. E apesar de não haver conotação sexual explícita, as imagens reforçam um grande ar fetichista, especialmente após Farrier divulgar informações sombrias sobre o mercado.
Segundo ele, convocados para participar das competições recebem valores substanciais para aparecerem nos vídeos. Normalmente, os jovens têm idades entre 18 a 24 anos e são observados em vários canais de mídia pela web, além de serem alvos de olheiros em universidades e locais com "potencial". De acordo com as fontes de Farrier, a empresa atrai essas pessoas ao convidar para fazerem testes para reality shows e outros projetos de mídia.
(Fonte: BBC / Reprodução)
“Eu estava procurando uma história para cobrir na Nova Zelândia”, disse o jornalista. “Sou um repórter de entretenimento leve e entrei em contato com essa empresa dizendo que estou curioso sobre essa competição de cócegas, do que se trata, e a primeira resposta naquele mural público do Facebook foi: 'Não queremos lidar com um jornalista homossexual.' Isso disparou o alarme imediatamente. Quero dizer, essa foi uma resposta tão estranha.”
O documentário, que será exibido em breve pela HBO, desmistificará o que os produtores chamam de "império das cócegas", um mercado no submundo com grande movimentação de dinheiro e interesses obscuros. Até o momento, estima-se que o grupo Jane O'Brien Media seja alvo de inúmeros processos e acusações, onde pessoas alegam intenções nem um pouco inocentes e casos graves de manipulação.
O mercado das cócegas chamou a atenção de Farrier pelo seu significado de dor embutida no prazer. Segundo Alan J. Fridlund, psicólogo social e clínico, as cócegas possuem um lado perverso de dominação, onde o "dominador" entende, pela infantilização da ideia, que há uma aprovação para continuar praticando o ato contra o "dominado".
“Se ele continua, fica instigado pelo desagradável fato de que cócegas muito intensas causam cataplexia, um enfraquecimento generalizado dos músculos estriados do corpo, algo que todo mundo que já passou por uma ‘tortura de cosquinhas’ conhece", esclarece o especialista.
(Fonte: BBC / Reprodução)
Porém, o ato é imbuído de um aspecto estranho, onde as pessoas submetidas se colocam em uma posição de "risada forçada", mesmo que não estejam passando por uma experiência efetivamente engraçada. Assim, sugere-se a ideia de um comportamento agressivo e controlador por parte de quem força, transmitindo uma ideia de humilhação para quem está no papel do ser passivo.
"Fiquei completamente perplexo por um tempo com o que descobri. Não daria para inventar algo assim. Mas alguns pessoas acharam que sim – elas acham que é tão inacreditável que é um falso documentário de humor", conclui Farrier.