O Pasquim desafiou a Ditadura Militar e mudou o jornalismo no Brasil

31/03/2022 às 04:003 min de leitura

Nesta quinta-feira, 31, o Brasil relembra o golpe militar que tomou de assalto o país e nos levou para as trevas por longos 21 anos. Houve quem fizesse associação disso com a tentativa de censura contra o festival Lollapalooza, no último final de semana, quando o presidente Jair Bolsonaro acionou o TSE e foi atendido pelo ministro Raul Araújo.

Isso ocorreu após a cantora Pabllo Vittar gritar "Fora Bolsonaro" e carregar uma bandeira com o rosto do ex-presidente Lula, na sexta-feira, 25. A cantora Anitta chegou a defender que artistas desafiassem a medida do TSE, prometendo pagar as multas. Essa postura da cantora lembrou o papel que O Pasquim teve durante a ditadura, quando foi ativo em desafiar o regime militar.

O Pasquim foi marco da imprensa brasileira

(Fonte: Reprodução/IstoÉ)(Fonte: Reprodução/IstoÉ)

Lançado há mais de 50 anos, O Pasquim foi uma publicação criada pelo cartunista Jaguar e pelo jornalista gaúcho Tarso de Castro, no ano de 1969, que utilizava muito humor e possuía uma linguagem mais solta e provocativa, tendo se tornado um fenômeno de vendas e referência ao fazer jornalístico.

A proposta era ocupar o espaço deixado pelo tabloide de humor A Carapuça, comandado pelo jornalista Sérgio Porto (cujo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta foi como ficou mais conhecido), que havia falecido recentemente.

Tarso foi convidado a assumir o lugar de Porto, mas Jaguar o convenceu a não aceitar a vaga durante uma conversa entre os dois. Desse papo no bar Jangadeiros, em Ipanema, surgiu a mola propulsora que se tornaria O Pasquim: um jornal sem patrões, com plena liberdade para a escrita. Tarso topou a empreitada com uma condição: ter carta branca para montar o periódico.

Um jornal "difamador"

(Fonte: Reprodução/IDenúncias)(Fonte: Reprodução/IDenúncias)

A primeira equipe do jornal, além de Tarso e Jaguar, contou com o jornalista Sérgio Cabral. O publicitário Carlos Prósperi e o cartunista Claudius Ceccon seriam responsáveis pelo projeto gráfico. Na rua do Resende, número 100, localizada no centro do Rio de Janeiro, foi montada a primeira redação do semanário, em uma sala dentro da distribuidora da imprensa.

O nome foi ideia de Jaguar, aceito mais por falta de opções do que por gosto, e seu significado deixava clara as intenções do grupo: pasquim significa "jornal difamador, folheto injurioso". Em O Pasquim - Antologia Volume 1, o cartunista conta que optou por um nome que obrigasse os detratores a encontrar outra forma de ofendê-los, antevendo que seriam alvo de críticas.

Em 26 de junho de 1969, saiu a primeira edição do jornal. 14 mil exemplares foram impressos, esgotando-se em apenas dois dias. Devido ao sucesso, a equipe rodou mais 14 mil exemplares. Nomes importantes como Chico Buarque e Odete Lara estamparam a primeira edição como correspondentes. Luiz Carlos Maciel, Sérgio Noronha e Olga Savary colaboraram com textos.

O Pasquim foi casa para importantes jornalistas brasileiros

(Fonte: Reprodução/Folha de São Paulo)(Fonte: Reprodução/Folha de São Paulo)

O semanário, apesar de todas as dificuldades impostas pela ditadura militar, conseguiu reunir um séquito de fãs, atingindo em meses uma tiragem de 80 mil exemplares. Esse fato atraiu, também, muitos nomes do cartum e do jornalismo do país.

Ziraldo, Fortuna, Paulo Francis e Millôr Fernandes não tardaram a completar o time do jornal que revolucionava a maneira como a carreira deveria ser encarada, a ponto de superar as vendas somadas das principais revistas da época, como Veja e Manchete. O veículo marcou época dando espaço a reportagens que questionavam o conservadorismo e davam espaço aos exilados políticos se manifestarem.

E seu sucesso fazia com que mais craques chegassem, como Henfil, Martha Alencar, Ivan Lessa, Sérgio Augusto e Miguel Paiva, por exemplo. Mas também atraía a atenção do regime militar. Em outubro de 1970, quase toda a equipe de redação do jornal foi presa sob o pretexto de ter publicado material desonroso à memória de Dom Pedro I.

Fim melancólico não apagou seu legado

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Em 1991, quando a última edição foi publicada, já sem o artigo no nome, o jornal era visto pelos apaixonados como um cadáver. Muitos de seus integrantes haviam deixado o veículo, outros falecido. O desgaste era nítido, fruto de algumas más decisões administrativas, que levaram o semanário a acumular sérias dificuldades financeiras.

Apesar disso, O Pasquim manteve seu legado como um porta-voz das liberdades democráticas e do bom jornalismo, tendo defendido abertamente a Campanha pela Anistia aos exilados políticos e as Diretas Já.

Duas iniciativas, já no século XXI, tentaram reviver o espírito d'O Pasquim. A revista Bundas, lançada em 1999, era uma paródia escrachada à revista Caras. Outra, OPasquim21, foi comandada por Ziraldo. Ela foi lançada em 2002 e durou até meados de 2004, sem o mesmo sucesso editorial, apesar de conter nomes importantes do jornalismo, como Miguel Arcanjo e Emir Sader.

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