Ciência
29/09/2022 às 12:00•2 min de leitura
No último dia 16 de setembro, Mahsa Amini foi morta em Teerã, capital do Irã. Ela tinha apenas 22 anos e estava presa por não usar corretamente o hijab, sob a custódia da Patrulha de Orientação, uma espécie de unidade policial de moralidade.
Quando a notícia de sua morte foi tornada pública, um convulsão social tomou conta da capital e outras cidades, repercutindo também em várias cidades ao redor do mundo. A divulgação de uma imagem de Amini em um hospital, deitada em coma, deu mais vigor às manifestações.
A morte da jovem iraniana ilustra a violência e a brutalidade do governo local em relação às mulheres e aos grupos étnicos minoritários, como os curdos, do qual ela fazia parte. Não foi a primeira vez que algo do tipo ocorreu, mas agora as coisas parecem estar tomando um rumo diferente. Entenda as razões.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A Patrulha de Orientação, esquadrão do Comando de Aplicação da Lei da República Islâmica do Irã é responsável por supervisionar a implementação pública dos regulamentos do hijab, as vestimentas prescritas pela doutrina islâmica. Relatos dados pelos familiares de Mahsa Amini dão conta de que a jovem foi espancada até a morte, alegação refutada pelo governo e pela própria polícia.
Acontece que as informações e as imagens geraram uma grande revolta pública, fazendo com que os manifestantes fossem às ruas exigir que as mulheres tenham o direito de escolher o que vestir. O tempo fez crescer a insatisfação pela interferência do governo nas questões de âmbito pessoal.
Apesar dela já ter sido muito maior, o conjunto de regulações sociais e regras rígidas de estilo de vida seguiam muito pesadas para as mulheres, que praticamente não possuem direitos fundamentais. O hijab, no fim, é apenas a ponta do iceberg de questões muito mais profundas e complexas, que ganham cada vez mais apoio de diferentes camadas da população.
(Fonte: WIkimedia Commons)
Enquanto outras manifestações públicas tinham homens à frente, a deste momento é liderada por mulheres. As questões são bastante profundas, mas é impossível negar que os direitos femininos estejam no centro das demandas.
Isso não significa dizer que as questões econômicas ou outros aspectos da política local não importe, mas a pauta comportamental foi a que mostrou maior potencial de união. A insatisfação com a ingerência sobre a vida, especialmente das mulheres iranianas, mostra que o governo tem sérios problemas pela frente.
O histórico do país mostra uma sequência de casos de humilhações em virtude de gênero. Ainda que a violência costume ser muito maior com as curdas e os curdos, desta vez as demais etnias parecem estar mais propensos a simpatizarem com a causa.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Protestar contra um governante não é uma situação tão simples mesmo em democracias. No caso do Irã, o problema é ainda maior, já que coloca em risco todo manifestante. Porém, ao contrário do que poderia parecer, a insatisfação popular se tornou maior do que o próprio medo.
Na capital e também em cidades do interior, mulheres têm tirado seus lenços na rua. Não é incomum filmagens e fotos mostrando essas mesmas pessoas ateando fogo neles, ou cortando o cabelo em público. Esse tipo específico de manifestação tem sido replicado em outros lugares do mundo, onde iranianos e simpatizantes dos movimentos tomam as ruas em apoio aos protestos.
Nem mesmo o esquadrão da polícia responsável por controlar motins está dando conta de dispersar a população. É possível encontrar vídeos circulando nas redes sociais mostrando que, em alguns locais, os manifestantes conseguem até empurrar a polícia para trás. É cedo para dizer se alguma mudança virá, mas certamente deixarão impactos. Resta saber quais.