Ciência
13/10/2022 às 08:00•2 min de leitura
No último dia 6 de outubro, um grupo de arqueólogos, integrante do Projeto Sikait, publicou um artigo em que narravam ter encontrado um antigo santuário, até então desconhecido, que teria sido o local de um ritual misterioso.
Localizado na antiga cidade portuária de Berenike, no Egito, o espaço foi batizado pelos pesquisadores de "Santuário do Falcão". O nome foi escolhido em virtude dos achados no sítio arqueológico: restos mortais de ao menos 15 falcões.
Segundo a equipe responsável pelas escavações das ruínas, o templo data do Período Romano Tardio, localizado entre os séculos IV e VI d.C.. As descobertas estariam ligadas à presença dos blêmios, um antigo povo nômade, que ocupou a região a partir do século II a.C. até o presente século V.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Ainda que encontrar restos mortais possa suscitar algo contrário, o artigo publicado pela equipe de pesquisadores no American Journal of Archaeology sugere que eles teriam encontrado evidências de que os blêmios usassem os falcões em cultos. As escavações foram feitas ao longo de 2019, na cidade que beira a costa do Mar Vermelho.
Segundo as informações compartilhadas, o santuário estaria no que chamaram de Complexo Norte, um dos edifícios mais importantes de Berenice à época. Das curiosidades apontadas pelos arqueólogos, chama a atenção uma curiosa inscrição no local, que proíbe a fervura de cabeças de animais dentro do espaço.
Segundo o que se sabe, o grupo estava em um período de expansão territorial pelo deserto do Egito. De acordo com comunicado assinado pelo professor Joan Oller Guzmán, diretor do Projeto Sikait, todos elementos apontam para rituais que combinavam tradições egípcias e dos blêmios, com uma base teológica relacionada ao culto do deus Khonsu.
O porto de Berenice era um local estratégico, funcionando durante os períodos romano e bizantino. Após, foi transformado no ponto de entrada das transações comerciais realizadas entre a região e Cabo Horn, Arábia e Índia, até ser abandonado, no século V.
(Fonte: Wikimedia Commons)
O uso de aves em rituais não era necessariamente um hábito incomum. Cultos envolvendo falcões já haviam sido observados na região do Vale do Rio Nilo antes. Porém, é a primeira vez que isso foi detectado no interior de um templo, especialmente acompanhado de ovos.
Falcões decapitados mumificados já haviam sido encontrados em outros sítios arqueológicos, mas nunca em grupo. Para os pesquisadores da Universitat Autònoma de Barcelona, as descobertas podem ajudar a compreender melhor como os blêmios agiam e pensavam.
Também integravam os achados pela equipe da UAB arpões, uma estátua em forma de cubo e uma estela, que nada mais é do que um monumento monolítico, construído com indicações relacionadas a atividades religiosas. O artigo da equipe também relata que no período das escavações, encontraram uma sala quadrada a noroeste do batizado "Santuário do Falcão".
Ali, os arqueólogos encontraram paredes produzidas de pedras de gesso branco, além de uma alcova retilínea com resquícios de revestimento de mármore. Não se sabe a utilidade do espaço, mas tudo leva a crer que estava inserido nos rituais e cultos.