Pinóquio: como ressurgiu a essência sombria do conto de fadas

20/12/2022 às 10:003 min de leitura

Recém-lançado pela Netflix, Pinóquio traz aos holofotes, pela segunda vez neste ano, a história do boneco de madeira mais querido dos contos de fadas. Porém, a trama desenvolvida 100% em técnicas de stop-motion surge como uma nova perspectiva da história de fantasia, agora guiada por um lado mais sombrio que, em um primeiro momento, pode despertar emoções negativas nos fãs. De onde será que veio essa proposta?

Em entrevista à BBC Culture, Guillermo del Toro, idealizador do longa-metragem, revelou que a morte é um elemento primordial em seu filme e é incorporada para ensinar sobre o significado da existência humana. Diferentemente do conto narrado pela clássica animação da Disney, aqui não é possível observar a concepção de um boneco romantizada, mas sim proposta pelo luto de um marceneiro, ocorrido após perder seu único filho para uma bomba na Segunda Guerra Mundial.

"Deixamos claro desde o início que este filme era parte integrante de A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno", diz del Toro, referindo-se a duas de suas fantasias de terror lançadas sob contextos históricos — a Guerra Civil Espanhola. "Deixei claro [para a Netflix, que financiou o filme] que não estou fazendo isso para crianças, não estou fazendo isso para os pais do futebol. Estou fazendo isso para mim e para meu time."

(Fonte: Netflix / Reprodução)(Fonte: Netflix / Reprodução)

A visão de del Toro foi inspirada pelo livro As Aventuras de Pinóquio, publicado em 1983 por Carlo Lorenzini. Nessa história, Gepeto é um miserável que não consegue pagar combustível para ter uma fogueira e acabou pintando uma em sua parede para simular a existência de lenha em chamas. Enquanto isso, o Grilo Falante foi esmagado em uma parede após Pinóquio arremessar uma marreta e a Fada Azul é uma entidade fantasmagórica que fala sem mexer os lábios.

Como se as coisas não pudessem piorar, o final da história de Collodi deveria ser ainda mais dramática. Segundo rascunhos, a ideia era deixar o herói de madeira sufocar enforcado em um carvalho, logo após ser amarrado pelo Gato e pela Raposa. Apenas o apelo do público, que desejava ler uma trama com um encerramento mais agradável, fez com que o autor desse continuidade ao livro quatro meses depois, lançando novos capítulos onde a menina morta renasceria como a icônica fada.

Pinóquio é mais maduro do que se pensa

Muito mais do que um conto de fadas, Pinóquio foi criado como um dos predecessores do gênero conhecido como dark fantasy. Na literatura, suas contrapartes seriam Alice no País das Maravilhas e a sequência, Alice Através do Espelho. Ann Lawson Lucas, traduziu da edição de Pinóquio da Oxford University Press, comentou que essas narrativas — especialmente a do boneco de madeira — foram criadas para levantar questões sobre o que está sendo satirizado.

Com isso, a obra de Collodi chegou a ser comparada com a Odisseia e a Divina Comédia, destacando seu potencial multi-interpretativo e conexões profundas com os departamentos da filosofia, antropologia, psicanálise e outros. Por exemplo, um dos argumentos aponta que Gepeto seria Jesus Cristo — diminutivo de Giuseppe, ou José — e a Fada Azul a Virgem, devido a sua paleta de cores focada em tons de azul. Curiosamente, no filme de del Toro, Pinóquio olha para um crucifixo e pensa: "Ele também é feito de madeira. Por que todo mundo gosta dele, não de mim?"

(Fonte: Alamy / Reprodução)(Fonte: Alamy / Reprodução)

A "história da criação" sobre uma obra de arte que ganha vida tem, como tema predominante no filme de del Toro, a injustiça das crianças serem mandadas pelos adultos. O diretor quis propor um herói desobediente, onde cada ato de confronto resulta em uma punição direta ou como consequência profunda. Assim, a virtude seria apresentada como um elo que tornaria o personagem mais íntimo com todos os espectadores, porém de uma forma "assustadora".

Apesar disso, as imagens de Collodi seguem deixando rastros por cada adaptação que aparece. O medo do mundo adulto é retratado das mais diversas formas, à medida que temas como a dificuldade de compreensão, as mentiras, os problemas por escolhas inconsequentes e o mal inerente ao mundo exterior afetam alguém que quer ser um menino de verdade; ou uma pessoa, um humano, de verdade.

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