Ciência
24/01/2023 às 13:00•4 min de leitura
São Paulo carrega o título de maior cidade da América Latina, com seus mais de 12 milhões de habitantes, como informado pelo Censo Demográfico 2022 divulgado pelo IBGE. A região concentra 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo considerada o epicentro das artes, cultura e diversidade do Brasil.
Em comemoração aos seu aniversário, aqui está como foi história da fundação de São Paulo.
Manoel da Nóbrega. (Fonte: TOK de História/Reprodução)
Antes dos jesuítas e até mesmo de João Ramalho, o explorador Américo Vespúcio, nascido em Florença, na Itália, foi provavelmente o primeiro homem europeu a colocar os pés na costa do atual estado de São Paulo, em 1502, desembarcando onde viria a ser o Porto de São Vicente. Foi lá que a história de São Paulo começou. Em meados de 1530, o rei Dom João III, conhecido como "o Colonizador", organizou uma expedição para o Brasil que reunia 400 colonos e tripulantes para o início da colonização efetiva do país.
Quem estava à frente da esquadra de cinco embarcações era Martim Afonso de Sousa, cuja missão era combater os traficantes franceses de pau-brasil e penetrar nas terras brasileiras na direção do Rio da Prata à procura de metais preciosos enquanto estabelecia núcleos de povoamento na região litorânea.
Dezenove anos mais tarde, em 1549, para dar continuidade à exploração da terra, o primeiro governador-geral da colônia brasileira, Tomé de Sousa, chegou ao Brasil com um grupo de jesuítas liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, com o objetivo de zelar pela Igreja instalada no país e, sobretudo, evangelizar, catequizar e tornar cristãos os povos indígenas.
(Fonte: Alesp/Reprodução)
Em outubro de 1553, Nóbrega foi até a vila de São Vicente e subiu a Serra do Mar, chegando no planalto de Piratininga à procura de um local para poder erguer um edifício de catequização oficial para os nativos e uma casa para se instalar. A região dos Campos de Piratininga, além de possuir diversos indígenas, já era habitada por João Ramalho, um português cuja identidade até hoje é debatida. Ninguém sabe ao certo como ele veio parar no Brasil, apenas que se estabeleceu na atual região de Santo André com um grupo de nativos e europeus, absorvendo os hábitos dos indígenas.
Ramalho foi descrito pelo padre como "um selvagem que andava nu e não respeita preceitos religiosos", apesar de possuir qualidades de líder, força moral e espírito empreendedor — resquícios do que considerou sua "educação legítima".
José de Anchieta. (Fonte: Revista Arautos/Reprodução)
Ironicamente, Ramalho era tudo o que Nóbrega tentava evitar com seus planos para o planalto. Afinal, ele não acreditava que as pessoas da vila de São Vicente, de "má criação" e "capazes de grandes maldades", conseguissem criar uma sociedade devota ao reino de Deus e se manterem longe de uma vida pecadora. Essa ideia cruzava com o certo insucesso de Leonardo Nunes, o pioneiro da catequização na vila, enviado ao litoral paulista anteriormente por Nóbrega para estabelecer o primeiro colégio jesuíta.
Os indígenas, por outro lado, eram considerados pelo padre "páginas brancas", ou seja, fáceis de ensinar por não terem acesso a nada, apesar dos modos primitivos. Além disso, eles eram sua última alternativa, visto que já havia se decepcionado com os colonos da Bahia.
Pateo do Collegio. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
Após reunir uma pequena população composta por aldeias esparsas que ficavam no meio do caminho entre São Vicente e Santo André, Nóbrega convidou o então noviço José de Anchieta, de apenas 19 anos, para ajudá-lo a fundar o colégio jesuíta e dar início à sua missão naquela terra.
Estabelecida a nova sociedade em uma elevação, na confluência dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, o padre construiu uma casinha que serviria de moradia aos jesuítas e sede do que hoje é conhecido como "Pateo do Collegio". Nela foi celebrada a emblemática primeira missa que marcou o início das atividades do Colégio São Paulo de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554. Era a fundação oficial da cidade.
(Fonte: Projeto Sophia/Reprodução)
A consolidação de São Paulo de Piratininga só foi possível com a ajuda do cacique Tibiriçá, pai da índia Bartira, esposa de Ramalho, e considerado o verdadeiro “senhor dos Campos de Piratininga”.
Ele foi recrutado por Nóbrega por ser definido como um "índio bom" entre os padres, por ser amigo e defensor deles – muito diferentemente de seu genro. Tibiriçá, inclusive, ajudou na construção do colégio e na estruturação da pequena sociedade nos primeiros anos que sucederam sua fundação.
Os padres não teriam conseguido sem o cacique, sobretudo em meio aos constantes conflitos contra grupos de indígenas que se juntaram aos revoltosos que surgiam à medida que cresciam as expedições de Entradas e Bandeiras, que partiam da capitania de São Paulo capturando índios para trabalharem em lavouras e minas de ouro. Esse movimento conheceu seu apogeu no século XVII.
Tibiriçá. (Fonte: Veja/Reprodução)
Em 1562, considerado o ano da consolidação de São Paulo de Piratininga, o cacique reuniu o apoio de habitantes de três aldeias vizinhas para formar um exército e defender a todo custo o assentamento dos padres, resultando em uma briga sangrenta da qual ele saiu vitorioso.
Quando o rei português decidiu ratificar o nome da cidade em São Paulo, 157 anos depois, as operações de Entradas e Bandeiras ainda aconteciam, só que de maneira mais violenta e cruel, como símbolo marcante do processo de colonização do Brasil.
(Fonte: G1/Reprodução)
A máquina da indústria cafeeira do século XIX foi o que transformou São Paulo no importante centro econômico que é até hoje, consolidado em meados dos anos 1800 por ser o núcleo intelectual do Brasil ao ganhar a primeira faculdade — de Direito — localizada no Largo São Francisco, centro da capital.
Foi nesse período que os imigrantes começaram a chegar de todas as partes do mundo, fugindo de perseguição religiosa, fome e conflitos, reproduzindo a história civilizatória da humanidade. Até meados de 1890, mais da metade dos habitantes da cidade era de origem imigrante. Entre o final do século XIX e início do século XX, mais de 4 milhões de imigrantes habitavam nosso país.
A cultura do café foi responsável por levar São Paulo e o Brasil para a modernidade com a introdução da ferrovia na cidade, construída para escoar o principal produto de exportação brasileiro; conferindo costumes e estabelecendo o que é considerado clássico hoje, como as mansões dos barões. Construções urbanas, teatros e mostras de arte foram apenas um pedacinho do que a riqueza do café trouxe.
(Fonte: DCI/Reprodução)
O fim dessa era aconteceu quando a Grande Depressão de 1929 atingiu os Estados Unidos, então maior comprador de café brasileiro, diminuindo a níveis drásticos a importação. A medida paliativa protecionista de comprar toneladas de café e queimá-lo, escolhida pelo então presidente Getúlio Vargas, foi o que impediu o Brasil de atingir o fundo do poço.
Foi sob esse abalo que a década de 1930 ofereceu a política como último instrumento que São Paulo precisava para hoje, mais de quatro séculos após sua fundação, se manter como o centro econômico do Brasil; uma cidade responsável por fazer de pessoas "seres mais criativos e pensantes", como disse a artista plástica japonesa Tomie Ohtake.