Artes/cultura
24/02/2023 às 08:02•2 min de leitura
Em 24 de fevereiro de 2006, quatro homens invadiriam o Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, para roubar pinturas de valores inestimáveis. Com um prejuízo estimado em US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões, em cotação atual), o assalto se tornaria o maior golpe contra obras de arte da história brasileira, em um evento que não terminaria bem para o acervo pertencente à Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya.
Pertencente ao Ministério da Cultura, a chácara de 25.000 metros quadrados que abriga o museu foi alvo de um oportunismo durante o Carnaval de 2006. Enquanto o bloco das Carmelitas passava pela região e chamava a atenção de multidões, uma gangue atravessou o sistema de segurança do local, fez nove reféns e roubou obras de renomados artistas internacionais. Porém, apesar da magnitude do crime envolvendo o patrimônio histórico, as autoridades fizeram pouco caso.
Segundo registros policiais, os bandidos levaram as telas "Marine", de Monet, "Dois balcões", de Dalí, "Jardim de Luxemburgo", de Matisse, e "A Dança", de Picasso. Além disso, o livro "Toros", também uma composição do mestre espanhol, teria sido capturado junto dos outros projetos. Indícios apontaram que houve um furto logo em seguida — durante a fuga —, mas investigadores não chegaram a conclusões sobre quem teria sido o autor.
(Fonte: O Globo / Reprodução)
Na época, o motorista da Kombi foi preso, enquanto dois funcionários do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), trabalhadores internos do museu, foram intimados ao lado dos seis vigilantes terceirizados. Roberto Rodrigues, o segurança que teria sido agredido com uma coronhada pelos bandidos, não compareceu ao chamado as autoridades.
Com dificuldades institucionais, o inquérito teria ignorado possíveis interrogatórios com três dos visitantes mantidos reféns, bem como informações sobre a análise das digitais recolhidas na cena do crime. Curiosamente, o descaso teria sido semelhante ao que houve em 1989, quando as mesmas obras de Matisse e de Dalí foram roubadas, apesar de terem sido posteriormente recuperadas. Além disso, o comunicado inicialmente enviado pela Polícia Federal listou apenas três obras roubadas, em vez das cinco confirmadas pela curadoria.
O roubo à Cháchara do Céu jamais foi solucionado e acabou caindo no esquecimento. Anos depois, parte da obra “A Dança” foi encontrada numa fogueira no morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro. “Jardim de Luxemburgo”, de Matisse, chegou a ser anunciado num site de leilões em Belarus, país do Leste Europeu, por um lance mínimo de US$ 13 milhões.
"Durante um grande evento, os esforços estão concentrados em um lugar. O cobertor é curto e os roubos são mais comuns. O roubo de arte alimenta uma série de outros crimes, ele não é nada secundário. Em escândalos recentes no Brasil, foram apreendidas centenas de obras de arte, mas a arte não é tratada como parte do crime", conclui a jornalista Cristina Tardáguila, autora do livro investigativo A Arte do Descaso.