Necrofilia, estupro e violência: o lado sombrio de Salvador Dalí

15/02/2021 às 15:004 min de leitura

Faz sentido que Salvador Dalí tenha se tornado uma das maiores figuras do movimento surrealista de todos os tempos, pois ele sempre preferiu viver em seus próprios sonhos a viver na realidade. A mente do gênio já era imensa quando ele ainda era apenas uma criança repleta de devaneios e reflexões.

Contudo, por trás de toda a sua excentricidade, loucura e personalidade enigmática, havia um lado obscuro e bizarro que o dominava e só era dito através de sua própria arte.

Sempre houve algo de muito errado com Dalí.

O Grande Masturbador

O Grande Masturbador, 1929. (Fonte: Catawiki/Reprodução)

Felipa Domènech Ferrés, mãe de Dalí, foi a única pessoa que encorajou a veia artística do filho, enquanto o pai, Salvador Dalí Cusí, um advogado e tabelião ateu anticlerical e federalista catalão, tentava educá-lo com sua abordagem grotesca do mundo e da realidade.

Depois da morte da mãe, em 6 de fevereiro de 1921, quando tinha 16 anos, a mente do pintor se perdeu no convívio com o pai. Em obras como O Jogo Lúgubre (1929), Os Primeiros Dias da Primavera (1929) e O Grande Masturbador (1929), Dalí expressou a sua ansiedade sexual e desejos inconscientes, como sua homossexualidade tão represada.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Seu pai enfatizava que havia um mal e um pecado grande dentro do garoto que surgiriam quando ele entregasse seu corpo aos “prazeres da experimentação sexual”. Dalí foi forçado a olhar para um livro repleto de imagens de pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) em estado avançado, com órgãos desfigurados e até em estado de decomposição.

Ele ficou tão traumatizado que cresceu certo de que o sexo e a masturbação degradavam o corpo. No entanto, a exposição forçada não o repeliu como o pai esperava, apenas gerou alguns distúrbios, como a ninfomania. Por anos, Dalí comparou seu pênis com os de seus colegas e o achava pequeno e “mole” demais. Em certo ponto de sua vida, ele se considerou sexualmente impotente e desenvolveu uma obsessão pela masturbação, a ponto de se masturbar mais de dez vezes ao dia diante do espelho. Ele também fazia isso porque esperava que o ato fosse gatilho de inspiração para levá-lo ao seu “mundo do absurdo”.

Um homem violento

(Fonte: Britannica/Reprodução)
(Fonte: Britannica/Reprodução)

Em um emaranhado de misticismo, metafísica, psicanálise freudiana, teoria óptica e física, Salvador Dalí foi um dos artistas mais influentes do século XX – e um homem violento. Já aos 5 anos, ele chegou a empurrar um menino de uma ponte sem motivo algum e costumava chutar a cabeça de sua irmã de 3 anos “como se fosse uma bola” para vê-la chorar.

Isso poderia ser considerado só um comportamento infantil, no entanto, à medida que foi amadurecendo, Dalí foi gostando ainda mais da dor que a violência lhe causava. Aos 29 anos, ele gostava de pisotear diariamente uma mulher que havia comentado que seus pés descalços eram bonitos.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Aos 76 anos, acusado de espancamentos e estupros de mulheres e jovens, o artista não abandonou seu lado furioso nem quando um distúrbio motor o impediu de segurar até mesmo uma escova de dentes. Dalí era abandonado por até 2 dias por sua esposa e musa, Gala Éluard, que usava o dinheiro que ele recebia por sua arte para gastar com presentes para seus amantes, que em sua maioria eram jovens artistas que também a viam como musa.

Quando a revolta o atingiu de vez, Dalí espancou Gala de tal forma que quebrou duas de suas costelas. Como consequência, a mulher o injetou uma grande dose de Valium e outros sedativos, causando-lhe um dano neural irreversível. Foram os amigos de Dalí que o tiraram de casa e o colocaram sob os cuidados das enfermeiras da Clínica Incosol. Uma vez lá, o pintor fazia questão de assediá-las, arranhar seus rostos e praticar todo e qualquer ato de maldade que ainda lhe cabia, apesar de suas limitações.

As formigas

(Fonte: WahooArt/Reprodução)
As formigas, 1929. (Fonte: WahooArt/Reprodução)

No ensaio Benefício do Clero: Algumas Notas sobre Salvador Dalí, de 1944, o escritor George Orwell criticou a “personalidade estranha vista como a personificação de um gênio” de Dalí e como o talento dele fazia as pessoas considerá-lo acima de qualquer repreensão.

Entre os escândalos que o artista se envolveu ao longo de sua vida, a necrofilia foi o considerado o mais polêmico. Em sua autobiografia Vida Secreta de Salvador Dalí, publicada em 1942, ele admitiu que exercia a prática, mas disse que foi “curado” dela tempos depois. Foi por meio das formigas que o pintor começou a desenvolver suas tendências necrófilas: tudo teria começado em seus 5 anos, quando ele encontrou um morcego quase morto coberto por formigas e simplesmente o abocanhou e mastigou até que sobrasse apenas pedaços.

(Fonte: Empty Easel/Reprodução)
(Fonte: Empty Easel/Reprodução)

Ao longo de suas obras, as formigas surgem com frequência para representar a putrefação que Dalí tanto temeu, porém também a atração obscura que sentiu por insetos. É nas fotos surrealistas que o vigor do homem por cadáveres aparece com mais frequência, em cliques que expõem corpos exumados em decomposição, sempre rodeados por formigas.

No fim das contas, em sua análise, Orwell observou: “Deveríamos ser capazes de manter na cabeça, simultaneamente, o fato de que Dalí é um bom desenhista e um ser humano nojento”.

O Enigma de Hitler

Hitler se Masturbando, 1973. (Fonte: Le Monde/Reprodução)

Artistas e intelectuais do mundo todo foram os primeiros a se posicionarem contra as artimanhas genocidas e ideologias inumanas de Adolf Hitler na primeira metade do século XX. O Grupo Surrealista de Paris, que surgiu com o fim da Primeira Guerra Mundial diante da ameaça nazista, expulsou Salvador Dalí por ele demonstrar um estranho fascínio pelas convicções hitleristas após desenhar o quadro O Enigma de Hitler (1938).

Apesar de Eric Shanes afirmar em sua biografia A Vida e as Obras-Primas de Salvador Dalí que a idolatria do pintor surgiu apenas para “ofender” o poeta francês André Breton, esse argumento não parece se sustentar muito bem junto ao fato de que Dalí também enaltecia o ditador Francisco Franco, responsável pela Guerra Civil Espanhola, intitulando-o como o “maior herói da Espanha”.

(Fonte: Catawiki/Reprodução)
O Enigma de Hitler, 1939. (Fonte: Catawiki/Reprodução)

O jornalista Mick Brown, que passou um fim de semana com Dalí em 1973, disse que o artista imaginava uma linha de governo com um “rei que governa fortemente o país, e abaixo do máximo de anarquia. Um governante, o mais autoritário possível, com uma coroa decorativa e simbólica para colocar em cada capa de revista”.

Dalí revelou que “muitas vezes sonhava com Hitler como outros homens sonhavam com mulheres”, e isso ficou explícito em suas obras Hitler se Masturbando (1973) e A Metamorfose do Rosto de Hitler em uma Paisagem Enluarada com Acompanhamento (1958), que geraram um caos no mundo da arte por ninguém saber se o pintor nutria uma paixão ideológica pelo nazista ou se ele o atraía sexualmente.

Dalí se eternizou como o gênio, a mente além de seu século e o “rei do imaginário”, mas também como o agressor, ninfomaníaco, estuprador, necrófilo e louco.

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