Beguinas: as comunidades femininas que desafiavam a inquisição

15/03/2023 às 02:002 min de leitura

As beguinas foram mulheres que, durante a Idade Média, dedicaram suas vidas à devoção, mas sem fazer votos de pobreza ou castidade perpétua, ou se fecharem em conventos, mantendo-se firmemente independentes da autoridade eclesiástica institucional.

Essas mulheres, também conhecidas como "mulheres santas" (em latim vulgar: mulieres sanctae ou mulieres religiosae), eram frequentemente oriundas de famílias nobres e começaram a surgir em Liège, na atual Bélgica, no final do século XII.

Comunidades femininas

As beguinas dedicavam sua vida à fé. (Fonte: Getty Images)As beguinas dedicavam sua vida à fé. (Fonte: Getty Images)

O movimento beguinal rapidamente se espalhou pela Bélgica, Holanda, Alemanha e França, tornando-se uma opção popular para mulheres urbanas. Além de satisfazer as necessidades espirituais das adeptas ao movimento, ele também buscava resolver problemas socioeconômicos decorrentes de um excesso de mulheres que não se casavam, mas também não queriam ser freiras. Vale lembrar que as Cruzadas levaram milhares de homens à morte, então muitas mulheres não tinham com quem se casar.  

Ao contrário das freiras, as beguinas viviam em comunidades autônomas conhecidas como beguinagens, que chegavam a ter dezenas de moradoras. Além disso, diferentemente das religiosas de ordens católicas, essas mulheres eram livres para se casar ou deixar a beguinagem quando quisessem, mas muitas permaneceram por toda a vida.

A vida das beguinas era dedicada à oração e contemplação, mas elas também trabalhavam em empregos que lhes permitiam se sustentar. Algumas se dedicavam à produção de tecidos ou rendas, enquanto outras trabalhavam como enfermeiras.

Contribuições culturais e perseguição da inquisição

Algumas beguinas eram acusadas de heresia por causa de suas obras literárias. (Fonte: Getty Images)Algumas beguinas eram acusadas de heresia por causa de suas obras literárias. (Fonte: Getty Images)

Como eram geralmente bem-educadas, muitas beguinas também escreviam textos espirituais em sua língua nativa, desempenhando um papel importante na criação e disseminação da literatura vernácula, ou seja, a literatura escrita em línguas diferentes do latim, que era a linguagem padrão para se escrever textos literários. Justamente por isso, muitos suspeitavam que as beguinas estavam promovendo ideias religiosas não ortodoxas e algumas até mesmo foram acusadas de heresia e executadas.

Marguerite Porete, uma beguina do século XIII, foi queimada em Paris por causa de sua obra mística Miroir des simples âmes (O espelho das almas simples em tradução livre), um diálogo entre o Amor, a Razão e a Alma que é considerado um dos maiores tratados religiosos escritos em francês antigo. Além de ter escrito o livro, Marguerite costumava lê-lo em voz alta em diversas localidades e isso contribuiu para a sua condenação, já que as autoridades temiam que sua atitude demonstrasse que não era preciso um padre para expressar o amor à Deus.

As acusações de heresia tomaram uma proporção tão grande que o Concílio de Viena, em 1311, ordenou a dissolução das beguinagens. Embora a política oficial em relação às beguinas tenha variado ao longo dos séculos, muitas beguinagens foram eventualmente suprimidas ou dissolvidas, e muitas beguinas se juntaram a ordens religiosas estabelecidas. Algumas comunidades ainda existem, principalmente na Bélgica, onde a maioria opera instituições de caridade.

O equivalente masculino das beguinas era conhecido como beghards. Eles nunca alcançaram a mesma proeminência e as poucas comunidades que sobreviveram na Bélgica foram suprimidas durante a Revolução Francesa.

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