Saúde/bem-estar
22/04/2022 às 06:30•3 min de leitura
As bruxas são personagens femininas muito comuns em contos de fada e na ficção. Nessas histórias, elas normalmente aparecem como idosas, feias, com nariz adunco, frequentemente mexendo em um grande caldeirão no qual fazem suas poções.
Mas a verdade é que esse imaginário, de certa forma, é uma criação do cristianismo, que passou a simbolizar as bruxas como o lado mais sombrio do feminino, incapaz de ser "domado" em uma sociedade comandada por homens. Antes disso, as bruxas já existiam, mas eram vistas como curandeiras, pessoas sagradas dentro de sua comunidade.
Neste texto, contamos a você como se deu esse processo de "criminalização" das bruxas, especialmente pela Igreja Católica.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A ideia das bruxas já existia em culturas antigas. Elas apareciam, por exemplo, na mitologia do Oriente Médio, e eram representadas como mulheres que teriam condições de acudir e ajudar o seu grupo em situações difíceis. Eram mulheres sábias que faziam visitas domiciliares às famílias, realizavam partos, tratavam da infertilidade e curavam a impotência.
Não se sabe exatamente em que momento a imagem das bruxas começou a pender mais a coisas negativas do que positivas. No entanto, alguns pesquisadores acreditam que isto se iniciou antes mesmo do nascimento de Cristo, a partir de uma expansão cultural indo-europeia que valorizava os deuses masculinos da guerra, que passaram a sobrepujar as divindades femininas.
Assim, as bruxas — que eram sempre mulheres — foram sendo gradualmente associadas aos elementos do feminino tidos como mais perigosos, como a capacidade de conhecer a fundo e manipular a natureza. Vale lembrar que parte de suas atividades envolvia a cura de enfermidade por meio das ervas.
(Fonte: Library of the World's Best Literature)
Com o advento e a difusão do Cristianismo, passa-se a demonizar crenças e rituais entendidos como "pagãos", ou seja, anteriores à doutrina cristã. As bruxas, então, seriam exemplares perfeitos para serem exibidos como contraponto a uma suposta moralidade do Cristianismo.
No século XIII, quando a peste negra devastou a Europa, a Igreja Católica acentuou a ideia do diabo, de modo a responsabilizar algum ente por uma tragédia que ninguém conseguia entender ou explicar. Os adoradores do diabo, portanto, seriam também culpados pelas milhares de mortes que dizimaram as famílias no velho continente.
Para ressaltar isso, a Inquisição da Igreja Católica, que havia sido criada há décadas, destinou seus esforços na identificação e punição das causas (não católicas, é claro) dessas mortes em massa. As bruxas, afeitas a rituais tidos como pagãos, passaram a ser consideradas demoníacas.
(Fonte: Fine Art Images/Heritage Images/Getty Images)
Sendo assim, passou-se a espalhar que essas mulheres participavam de assembleias em que praticavam sexo promíscuo, dançavam nuas e comiam carne de bebês humanos. Em seguida, a Igreja Católica produziu um livro chamado Malleus Maleficarum, que ajudaria os "caçadores de bruxas" a identificar as mulheres perversas que seriam potencialmente presas fáceis para o diabo.
A obra, que também era chamada de "Martelo das Bruxas", funcionava como uma espécie de manual inquisitório e trazia indicações para se identificar um praticante de heresias. Dentre as indicações, estavam a de verificar se a pessoa possuía "marcas do diabo" no corpo (como verrugas e cicatrizes), se ela aparecia nos sonhos de outras pessoas e se possuía em casa instrumentos ligados à magia (como pilões, velas e certas plantas).
Nem é preciso dizer que esse livro, e o clima de histeria religiosa que circulava na Europa, foram responsáveis pela promoção de uma verdadeira chacina. Nos anos 1600, o continente estava tomado pelo movimento de ódio em direção a essas mulheres consideradas bruxas.
Os piores países nessa caçada foram a França e a Alemanha. Num famoso caso ocorrido na cidade alemã de Würzburg, os juízes locais consideraram que a maior parte dos moradores estava tomada pelo diabo, o que levou que centenas de mulheres inocentes fossem condenadas à morte.