Ciência
25/04/2023 às 09:00•2 min de leitura
A rainha Cleópatra, que governou o reino ptolomaico do Egito entre os anos de 51 a.C. e 30 a.C., era uma mulher negra ou tinha a pele clara por pertencer a uma dinastia macedônica? A controvérsia, que veio à tona após a exibição, no dia 12 de abril, de um trailer da Netflix retratando a imperatriz como africana, no docudrama Rainha Cleópatra.
Curiosamente, quando se discute a elaboração de alguma obra artística sobre Cleópatra, pouco se fala sobre suas realizações como governante no último grande império egípcio, que abrangia toda a costa leste do Mediterrâneo: do Egito ao Chipre, incluindo partes da Líbia atual e outras áreas do Oriente Médio.
Recentemente, houve grande polarização nas redes quando as atrizes Angelina Jolie e Lady Gaga foram cogitadas para protagonizar o remake do filme clássico de 1963, estrelado por Elizabeth Taylor. De pele clara, a atriz americana teve, na época, que usar uma maquiagem especial, elaborada por Alberto de Rossi, para assumir uma aparência bronzeada, ficando com uma pele de cor dourada-alaranjada.
Adele James, da série Casualty, interpreta a rainha Cleópatra.
De acordo com Jada Pinkett Smith, produtora-executiva da série documental African Queens, da qual Rainha Cleópatra faz parte, a ideia da obra é recriar "a verdadeira história da rainha".
"Não costumamos ver ou ouvir histórias sobre rainhas negras, e isso foi muito importante para mim, assim como para minha filha e para minha comunidade, para podermos conhecer essas histórias, pois há muitas delas", diz a atriz, que também narra o documentário.
Segundo o release da Netflix, durante o tempo do reinado da Cleópatra, a população egípcia era multicultural e multirracial. Por isso, é bastante improvável que alguém consiga algum dia documentar a verdadeira "raça" de Cleópatra. "Alguns especulam que ela era uma mulher egípcia nativa, enquanto outros dizem que ela era grega".
Modernamente, a classificação da humanidade em raças é considerada ultrapassada, pois essa divisão — fixada pelo naturalista sueco Carl Linnaeus no século XVI — não é mais usado nos meios acadêmicos. Além disso, falar em uma raça macedônica única seria incorreto, pois a região abrange a Grécia, a Macedônia do Norte, a Bulgária e a Albânia.
No calor dos debates, um advogado egípcio chamado Mahmoud al-Semary ficou tão incomodado com Cleópatra ser representada pela atriz negra Adele James, que entrou com um processo judicial contra a Netflix, acusando a plataforma de "tentar apagar a identidade egípcia".
Entrevistada pela revista Time, a professora de Estudos Clássicos da Universidade de Denison, Rebecca Futo Kennedy, esclarece que “perguntar se alguém era 'negro' ou 'branco' é anacrônico e diz mais sobre investimentos políticos modernos do que tentar entender assuntos antigos em seus próprios termos”. Para a professora, essas visões antagônicas sobre Cleópatra dizem mais respeito a nós. Mas "quem somos nós?", indaga.