Ciência
23/06/2023 às 02:00•2 min de leitura
Com Adolf Hitler às portas de invadir a Polônia e dar início a Segunda Guerra Mundial na Europa, o ano de 1938 estava permeado por uma tensão tão tênue quanto uma bolha de sabão, prestes a estourar.
Enquanto a Europa inteira se encolhia à sombra do fantasma crescente do nazismo, os cidadãos norte-americanos estavam grudados em seus rádios ouvindo que o país estava sendo invadido, não pelos nazistas, mas por alienígenas que vinham destruir o mundo.
Em 30 de outubro de 1938, a transmissão de rádio do jornalista Orson Welles lendo o livro Guerra dos Mundos fez parecer que o país estava sendo invadido por alienígenas.
Orson Welles, ao centro. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Ator, escritor, diretor e produtor, Welles é considerado um dos artistas mais prestigiados e notórios da cultura norte-americana do século XX. Em 11 de julho de 1938, foi ao ar o primeiro episódio do seu programa The Mercury Theatre On The Air, que adaptava obras literárias famosas como peças de rádio, sem que ninguém soubesse que não eram reais. Tudo era divulgado como algo comum.
No entanto, fazia 3 meses que as pessoas ouviam toda semana ele e seus atores performarem obras famosas, sendo Drácula de Bram Stocker a primeira delas. Ou seja, até aquele 30 de outubro, quando foi transmitida a leitura de Guerra dos Mundos, de H.G. Wells –, não havia acontecido nenhuma histeria em massa. Então o que aquela vez teve de diferente?
Por um lado, a mídia. Na década de 1930, a mídia impressa estava em declínio com a ascensão cada vez mais rápida dos rádios, então, assim que souberam que Welles leria Guerra dos Mundos, eles viram a oportunidade de difamar o rádio como responsável por espalhar notícias falas. Isso provaria que as pessoas deveriam confiar apenas em jornais impressos.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Como resultado, na manhã de Halloween de 1938, Welles acordou e se viu como um dos homens mais falados da América devido a sua transmissão radiofônica. Os jornais converteram a descrição do livro em boletins de notícias falsas de uma invasão marciana em Nova Jersey. Muitos ouvintes ligaram desesperadamente para a polícia, jornais e estações de rádio para tentar saber o que poderiam fazer.
Logo, a tática da mídia impressa havia funcionado, afinal, recorrer a eles, antes até que à polícia, significava que o rádio ainda não era confiável, porque não tinha fontes.
Isso foi o suficiente para validar a propaganda silenciosa contra as rádios, como também para inflamar a notícia que a transmissão havia causado histeria nacional e o quão problemático isso era.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Afinal, a CBS foi responsabilizada por debandas em massa, congestionamento de quilômetros, furtos em mercados, suicídios e ameaças a Welles.
“Se eu tivesse planejado destruir minha carreira, não poderia ter feito melhor”, disse Welles, na época apenas com 23 anos, em frente a uma turba de repórteres em uma coletiva de imprensa organizada às pressas no prédio da CBS.
Além, claro, do conluio da mídia impressa, Welles também teve parte na histeria que aconteceu. Em um depoimento judicial de 1960, como parte de um processo contra a transmissora, o jornalista explicou que ao escolher Guerra dos Mundos como a próxima obra a ser lida, a ideia era fazer uma transmissão de rádio tão bem dramatizada que parecesse real.
Welles, no entanto, só não esperava que seria tão bem-sucedido fazendo esse trabalho – tampouco que estava sendo atacado pelas costas.