Artes/cultura
12/07/2023 às 09:00•3 min de leitura
Claude Cahun foi uma artista francesa que teve uma grande importância no movimento queer. Nascida em Nantes em 1894, com o nome Lucy Renée Mathilde Schwob, a fotógrafa, escultora e escritora foi um nome importante dentro do surrealismo, e ficou famosa por conta dos seus autorretratos em que explorou a ambiguidade de gênero.
Muitas coisas feitas por Claude - como assumir um gênero neutro - foram pioneiras para a sua época. Neste texto, contamos a história de uma artista que inspirou grandes gênios, como André Breton e David Bowie.
A pequena Lucy era filha de uma mãe que lutava contra uma doença e mental e um pai judeu que era dono de jornal. Era uma época em que o anti-semitismo ascendia na Europa, o que criou um clima tenso para a família Schwob.
Quando sua mãe foi internada em um hospital psiquiátrico, a criança foi enviada para morar com a avó. Foi aí que ela começou a ensinar a assuntos diversos para Lucy, como filosofia, arte, literatura e mitologia. Mais tarde, ela seria enviada para a Inglaterra por conta de ataques anti-semitas sofridos na escola.
Ao chegar na idade adulta, Lucy frequenta a Universidade Sorbonne, em Paris. A essa altura, ela já havia assumido o nome Claude Cahun, de gênero neutro, e estava explorando a sua veia artística por meio da fotografia e da poesia. Curiosamente, Claude era chamada tanto pelos pronomes "ela" e "ele".
Estudiosos especulam que Claude Cahun pode ter sido transgênero ou não-binário, embora essas denominações não existissem em sua época. "Embaralhe as cartas. Masculino? Feminino? Depende da situação. Neutro é o único gênero que combina comigo", declarou certa vez.
(Fonte: Wikimedia Commons)
O artista ficou famoso por conta de seus autorretratos, em que usava adereços - como maquiagem e figurino - para explorar personagens com diferentes expressões de gênero, provocando o público a pensar. Claude ainda costumava raspar a cabeça e se vestir como homem, ou então usar trajes típicos de mulher. O fato surpreendente é que o travestismo era proibido na França nesta época.
Claude teve uma longa parceria romântica e artística com outro artista, Marcel Moore (nascida Suzanne Malherbe). Ambos estavam sempre juntos e fizeram vários trabalhos conjuntos. Claude e Marcel se conheceram na adolescência e mantiveram seu relacionamento em segredo, pois as pessoas gays eram forçadas a se esconder.
Mas algo inusitado acontecer: após se divorciar, o pai de Claude Cahun acabou se casando com a mãe de Marcel Moore, que era viúva. As meio-irmãs começaram então a viver juntas e se aproximar cada vez mais.
Mais tarde, ambos se mudaram para um apartamento em Paris, que começou a ser frequentado por grandes nomes do movimento surrealista, como Salvador Dalí, Jean Cocteau, Man Ray, Gertrude Stein, Georges Bataille e André Breton.
Mergulhados nessa cena cultural, Claude e Marcel se tornaram uma dupla artística inseparável e de grande destaque no movimento. Contudo, em 1937, eles acabam se mudando para a ilha britânica de Jersey, no intuito de escapar das ameaças do fascismo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1940, aviões bombardearam a ilha, forçando as pessoas que resistiam ao nazismo a se renderem. Entre elas, estavam Claude Cahun e Marcel Moore, que continuaram se manifestando publicamente com sua arte contra o que estava acontecendo.
A dupla produzia um material de propaganda anti-alemã que chamavam de "balas de papel", tentando semear a confusão e a rebeldia até entre os soldados nazistas. Eles criaram poemas, piadas ruins sobre Hitler, desenhos, cartazes colados em postes e mensagens manuscritas em maços de cigarros.
A Polícia Secreta ficou por anos tentando rastrear quem fazia aquilo, até descobrirem que eram duas mulheres de meia idade (os artistas tinham assumido seus nomes originais na ilha). Assim, o casal acabou sendo condenado pelo crime de distribuir propaganda antinazista. Foram presos por 8 meses e então libertos.
Claude Cahun morreu de câncer em 1954, quando tinha 60 anos, e foi enterrado por Marcel Moore na ilha de Jersey. Restou ao mundo a herança cultural do seu trabalho, que segue sendo discutido até hoje.