Artes/cultura
19/07/2023 às 06:28•2 min de leitura
A queda nos estoques de leite foi apenas um dos problemas enfrentados por Cuba no início da década de 1960, em decorrência do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. Mas ganhou atenção especial por afetar a produção da sobremesa favorita do então presidente do país, Fidel Castro: o sorvete.
Correndo risco de ficar sem a sua guloseima predileta, o revolucionário cubano decidiu construir a “maior sorveteria do mundo” em Havana. Porém, o empreendimento exigia superar um obstáculo importante, que era garantir o fornecimento de leite.
Quente demais, o país não apresentava as melhores condições para a criação de vacas leiteiras — elas existiam por lá, mas eram poucas. Dessa forma, Castro precisou desenvolver a indústria de laticínios de Cuba do zero, conduzindo testes com diversas raças, incluindo a famosa holandesa.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Os experimentos resultaram na criação de uma “supervaca”, a Ubre Blanca, que produzia quatro vezes mais leite do que a média das vacas naquela época. O animal fez tanto sucesso que foi usado em diversos discursos para exaltar a qualidade dos produtos socialistas.
Por conta das condições climáticas e de más gestões, a indústria de laticínios fundada por Fidel Castro durou pouco. Mas isso não impediu os avanços na construção da maior sorveteria do mundo na capital cubana, chefiada por Célia Sánchez, filha de um médico rico da ilha e que se tornou assessora do governo.
Criado pelo arquiteto Mario Girona, o prédio, com o salão e a fábrica, deveria ter capacidade para atender 1 mil pessoas e ficar pronto em seis meses, conforme as exigências do político. Assim nasceu a sorveteria Coppelia, cujo nome vem do balé favorito de Sánchez, além de apresentar logomarca que representa uma bailarina.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
O prédio de dois andares, com ares de palácio, logo caiu nas graças da população local, agradando também os visitantes de outros países, inclusive americanos. O cardápio contava com dezenas de opções de sabores, que chegaram a ser apresentados em festivais internacionais e entregues para parceiros do governo cubano, como o então líder vietnamita Ho Chi Minh.
Aproveitando o sucesso do sorvete fabricado na ilha, Castro disse que o êxito do estabelecimento mostrava como o regime cubano era capaz de “fazer tudo melhor que os americanos”, desafiando a potência mundial a produzir um sorvete de qualidade superior.
Inaugurada em junho de 1966, a sorveteria Coppelia continua funcionando na capital cubana, apesar de ter sido atingida em cheio pela crise econômica que afetou o país na década de 1990. Uma das consequências foi a diminuição na gama de sabores servidos, contando atualmente com cerca de 15 opções.
Mesmo com a redução, a sorveteria ainda é bastante procurada pelos moradores e turistas, que costumam formar longas filas do lado de fora do prédio de estilo modernista projetado por Girona.