Ciência
08/09/2023 às 09:00•2 min de leitura
Na década de 1930, enquanto os Estados Unidos navegavam pela turbulência da Grande Depressão, os jogos de tabuleiro ganharam destaque por ser um diversão simples e barata. Entre os favoritos estava o icônico Banco Imobiliário, onde sonhos de riqueza e poder prosperavam entre as dobras do tabuleiro.
No entanto, em meio a essa celebração do capitalismo, surgiu um jogo que desafiou as convenções e lançou as bases para uma revolução imaginária — o intrigante "Rumo à América Soviética".
Jogo buscava criar Estados Unidos comunista. (Fonte: Tobias Higbe - Flickr / Divulgação)
"Rumo à América Soviética" era mais do que apenas entretenimento; era uma provocação ao sistema estabelecido. Ao contrário do Banco Imobiliário, onde a riqueza era acumulada, no jogo comunista os jogadores eram desafiados a desmantelar as estruturas de poder, erradicar a opressão e tomar posse dos meios de produção. O resultado? Uma nação transformada em Estados Unidos Soviéticos da América, a USSA.
O jogo não conquistou a mesma fama que os outros jogos clássicos, mas sua mensagem certamente ressoou com as tensões políticas daquele tempo. A década de 1930 testemunhou a ascensão do comunismo nos Estados Unidos, com o Partido Comunista dos EUA (CPUSA) surgindo como a vanguarda dos trabalhadores oprimidos. "Rumo à América Soviética" personificava essas crenças, oferecendo uma visão alternativa ao fervor capitalista que dominava.
O game podia ser jogado por até quatro jogadores e envolvia avançar pelo tabuleiro por casas que representavam a luta proletária e a guerra contra injustiças sociais, racismo e até a Ku Klux Klan. Na área central do tabuleiro ficava a região chamada de "América Soviética", na qual os jogadores encontrariam as não apenas lideranças comunistas americanas, mas também as clássicas como Marx e Lenin.
William Zebulon Foster (ao centro, sentado) e os líderes do Partido Comunista Americano. (Fonte: GettyImages / Reprodução)
Um dos protagonistas desse movimento foi William Zebulon Foster, que nas eleições de 1932 acumulou mais de 100 mil votos — um número muito pequeno do eleitorado total, mas que representava a crescente influência comunista. Enquanto sua relevância política nos EUA era limitada, Foster era tratado como herói na União Soviética, tanto que recebeu um funeral de Estado na Praça Vermelha de Moscou após seu falecimento em 1961.
No entanto, o legado mais profundo de Foster não era apenas político, mas literário. Seu livro Rumo à América soviética (o mesmo nome do jogo), publicado em 1932, explicava como que, por meio do Partido Comunista, os trabalhadores poderiam emancipar-se da opressão capitalista e abraçar o socialismo. O livro apresentava uma América Soviética onde os trabalhadores dominariam a indústria e o governo, indo contra a realidade dominada pela elite americana.
Tanto o jogo quanto o livro permanecem como um lembrete vívido de um capítulo pouco explorado da história dos Estados Unidos. Em meio a incertezas econômicas e crescente influência comunista, esses produtos refletiam as esperanças, os medos e as ideologias da década de 1930.