Artes/cultura
24/06/2024 às 16:00•3 min de leituraAtualizado em 24/06/2024 às 16:00
Festa junina que se preze tem que ter fogueira, bandeiras, toalhas xadrez, chapéu de palha, quadrilha, música caipira e muita comida boa, daquele tipo que você espera o período de festas chegar para comer. Mas se a celebração é bem característica do Brasil, as comidas e bebidas consumidas ali têm origens bastante diversas.
Embora muitos produtos utilizadas na fabricação de doces, salgados e bebidas já existissem por aqui quando da chegada dos portugueses, algumas receitas possuem inspiração em outras regiões do planeta. Há, ainda, aquelas que foram adaptadas para o Brasil, substituindo ingredientes ou acrescentando um toque regional.
O pé de moleque é uma iguaria típica das festas juninas cuja origem possui diferentes histórias. Uma famosa diz que o nome do doce, característico desde o período colonial, teria surgido a partir da reclamação de doceiras que o preparavam e tinham pedaços tomados por crianças. Nessa tese, elas responderiam "pede, moleque", e a repetição da frase teria colado na comida.
A versão mais aceita é que o pé de moleque, originalmente preparado misturando amendoim torrado com rapadura, surgiu no século XVI, quando a produção de cana começou a se intensificar no Brasil Colônia e o açúcar começou a ser fabricado no país.
Historiadores afirmam que, na Península Ibérica, que compõe a região onde estão Portugal e Espanha, já havia um doce similar, provavelmente tendo origem árabe. Ele era feito com mel e castanhas, e os portugueses teriam trazido o hábito para o Brasil, adaptando a receita para os produtos que encontraram aqui.
O surgimento da paçoca de amendoim, comida típica da festa junina, deu-se pela inspiração que portugueses tiveram no modo que os indígenas preparavam seus alimentos. Paçoca vem da palavra indígena pasoka, cujo significado é "esmagar com as mãos".
Eles esmigalhavam a farinha de mandioca com as mãos, e misturavam com outros alimentos. Os portugueses decidiram fazer o mesmo com o amendoim torrado, que, ao se tornar uma farofa, recebia sal e açúcar.
Criado também durante o Brasil colônia, a paçoca de amendoim surgiu graças à introdução do amendoim na dieta local por parte dos portugueses. Existem duas teses sobre a origem do grão: uma indica que ele era usado pelos indígenas que habitavam o território que hoje é o Brasil; a outra é que ele teria vindo quando os portugueses exploraram a região entre Bolívia e Peru
Das comidas típicas de festa junina, o arroz-doce é daqueles com origem em disputa. Há quem defenda uma origem asiática, enquanto outros sugerem ter passado persa. Sua chegada ao Brasil tem relação com os portugueses, que trouxeram o doce da Europa, onde era servido frio ou quente.
Na Ásia, o doce era feito com leite vegetal. Já na Pérsia, com leite de vaca, mel e especiarias. Isso torna esta uma receita muito versátil, uma vez que pode ser preparada com leite de vaca, leite de coco, leite condensado, além de permitir a inclusão de especiarias, como canela.
A depender da região do país, você pode conhecer esse doce típico de festa junina como canjica ou mungunzá. Ele é um prato feito utilizando milho branco cozido em leite de coco, que pode ser substituído por leite de vaca e açúcar, ou até mesmo leite condensado.
De acordo com historiadores, o mungunzá se tornou um prato comum no Brasil com a chegada de africanos escravizados durante o período colonial. Essa seria uma adaptação mais simples de um prato africano, que passou a utilizar produtos que eram encontrados aqui, como o milho e especiarias.
Para acompanhar os pratos típicos, toda festa junina costuma oferecer uma bebida para esquentar. O quentão foi introduzido no Brasil pelos portugueses, que criaram uma receita adaptada da bebida que consumiam no inverno europeu, chamada mulled wine, criada no Império Romano.
Originalmente, era produzida com vinho quente misturado com especiarias e mel. Como o fermentado de uva não era comum no país, eles adaptaram usando especiarias trazidas da Índia, além de açúcar e cachaça. Na região sul do Brasil utiliza-se vinho, tornando o quentão mais próximo da bebida que era consumida na Europa. Por essa razão, é comum que se refiram a ela como vinho quente.