Ciência
02/05/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 02/05/2024 às 18:00
Muita gente descobriu recentemente a canção "Blackbird" dos Beatles por conta de uma regravação feita por Beyoncé para o seu novo álbum Cowboy Carter. Isso fez com que muita gente passasse a conhecer essa que, para muita gente, está entre as mais lindas músicas do grupo britânico.
Mas o que talvez você não saiba é que a canção, lançada em 1968, tem uma trajetória ligada à luta antirracista e ao movimento por direitos civis.
A canção de Paul McCartney foi lançada no famoso White Album dos Beatles, em 1968. Em 1997, McCartney deu uma declaração a Barry Miles para o livro Many Years From Now. Ele disse: "eu tinha em mente uma mulher negra, em vez de um pássaro. Esses foram os dias do movimento pelos direitos civis, com o qual todos nós nos preocupamos apaixonadamente, então essa foi realmente uma música minha para uma mulher negra, que vive esses problemas nos Estados Unidos: 'Deixe-me encorajá-la a continuar tentando, a manter sua fé, há esperança'".
Só que, segundo o músico, houve uma espécie de "cortina" e ele a escreveu de forma velada. "Como muitas vezes acontece com as minhas coisas, houve um 'véu' para que, em vez de dizer 'mulher negra vivendo em Little Rock' e ser muito específica, a canção se tornasse sobre um pássaro, se tornasse simbólica, para que você pudesse aplicá-la ao seu problema particular".
McCartney cita Little Rock por conta da inspiração original da música: o Little Rock Nine. Foi um momento histórico em que nove estudantes negros se matricularam em uma escola que era apenas para brancos. As consequências foram terríveis, com esses jovens sendo ameaçados e agredidos por pessoas brancas por ousarem frequentar o local.
Isso tudo ocorreu apenas três anos depois de a Suprema Corte dos EUA decidir que a segregação racial na escola pública era inconstitucional. Ocorre que o governador do Arkansas, Orval Faubus, se opôs à decisão e ordenou que a Guarda Nacional do Arkansas impedisse os alunos de entrar na escola. Por conta disso, o presidente Eisenhower acabou enviando tropas federais para escoltar os alunos para as aulas.
A notícia atravessou o mundo e chegou até Liverpool – os Beatles ainda não existiam. Embora a segregação oficial não tenha chegado a existir no Reino Unido, o país obviamente tinha casos de discriminações raciais, como o slogan “No Blacks, No Dogs, No Irish”, usado por comerciantes para recusar atendimento e alojamento a certas pessoas.
McCartney ficou muito impressionado com o acontecimento. "Este momento é, para mim, onde os direitos civis começaram. A gente via o que estava acontecendo e se solidarizava com as pessoas que passavam por essas lutas, e isso me fez querer escrever uma música que, se um dia voltasse para as pessoas que passavam por essas lutas, poderia ajudá-las um pouco", declarou a Barry Miles.
Em abril de 2016, Paul McCartney conheceu dois integrantes do grupo original nos bastidores do show que fez em Little Rock. E, como todo fã de Beatles sabe, "Blackbird" foi um grande sucesso e se tornou uma das músicas mais tocadas de todos os tempos.
Além disso, ela foi muito regravada, e recebeu versões de pelo menos 278 artistas, dos mais variados estilos. Paul McCartney, inclusive, elogiou muito a versão de Beyoncé: "acho que ela faz uma versão magnífica e reforça a mensagem de direitos civis que me inspirou a escrever a música em primeiro lugar. Beyoncé fez uma versão fabulosa e peço a quem ainda não ouviu que confira. Você vai adorar", declarou.