Ciência
02/05/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 02/05/2024 às 14:00
As maratonas de dança foram eventos comuns nos Estados Unidos durante as décadas de 1920 e 1930, que configuravam como verdadeiras provas de resistência: os casais ficavam dançando por horas e até dias. Ganhava a dupla que ficasse de pé por mais tempo.
Era uma bizarra forma de entretenimento ao vivo, que ficou muito popular durante a Grande Depressão americana, e fez com que várias pessoas passassem mal e até mesmo morressem.
As maratonas de dança surgiram na década de 1920, e tinham inicialmente um propósito mais simples de diversão. Contudo, com a chegada da grande crise econômica nos Estados Unidos, elas logo evoluíram para se tornar espetáculos públicos que exploravam as pessoas.
Tudo começou em 1923, quando uma instrutora de dança chamada Alma Cummings estabeleceu um recorde: ela dançou por 27 horas ininterruptas no Audubon Ballroom de Nova York, com seis parceiros diferentes.
Nas semanas seguintes, essa "febre" da dança se espalhou pelo país. Pessoas em vários estados se dispuseram a entrar em competições para quebrar o recorde de Alma – e foram conseguindo. Muito rapidamente, as maratonas foram se tornando cada vez mais populares.
Mas o espírito otimista da década de 1920 acabou dando lugar para os difíceis anos 1930. Por consequência, muita gente começou a ver esses concursos como uma forma de ganhar o dinheiro que não conseguia em outros lugares. Os eventos passaram a oferecer alimentação, hospedagem e altos prêmios em dinheiro aos competidores, o que significava, para muitas pessoas, o equivalente a ter um salário.
As regras das maratonas de dança eram simples, e compreendiam permanecer de pé movimentando os pés sem parar. De tempo em tempo, os competidores tinham direito a 15 minutos de intervalo para descansar em camas colocadas na própria pista de dança, o que permitia que eles continuassem sendo observados pelo público.
Os dançarinos recebiam comida enquanto e podiam realizar tarefas, como ler, limpar-se e fazer a barba, mas desde quem se mantivessem em movimento. Muitos recebiam bofetadas ou eram mergulhados em água fria para despertar do descanso.
Só que, à medida que o tempo foi passando, o espetáculo foi ficando mais sinistro. Os competidores passaram a sofrer os efeitos da privação de sono, às vezes com consequências trágicas. Em abril de 1923, um homem chamado Homer Morehouse, de 27 anos, morreu após dançar por 87 horas. Isso levou à proibição das maratonas de dança em Boston. Em seguida Los Angeles repetiu o exemplo.
Em 1928, em Seattle, uma mulher chamada Gladys Lenz tentou o suicídio logo após ser eliminada de uma competição. Ela também havia levado um soco no queixo do parceiro, que entrou em surto por conta da privação de sono. Por conta disso, eles receberam apenas US$ 50 (o primeiro prêmio era de US$ 1 mil), o que a fez tentar se matar.
Para completar, havia também escândalos envolvendo as maratonas, como denúncias de que os resultados fossem manipulados. Mesmo assim, elas duraram bastante tempo e até formaram algumas celebridades. Uma delas foi June Havoc, que depois se tornaria estrela da Broadway. Ela ganhou várias competições e ficou bastante famosa pelo feito.
Uma curiosidade: o Guinness World Records ainda monitora os recordes da maratona de dança, mas tem várias regras para avaliar as competições. Entre elas, está a presença de intervalos frequentes e a autorização para que só pessoas com mais de 16 anos possam tentar. O recorde atual é das irmãs nepalesas Alisha e Rubisha Shrestha, que dançaram por 41 horas em maio de 2019.