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30/04/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 30/04/2024 às 12:00
A depender da lente adotada, o surrealismo é tido como uma mera valorização do bizarro, ou mesmo uma ruptura estética. Mas encará-lo dessa forma isolada é justamente o que impede que o movimento mostre aquilo que ele tem de mais autêntico.
A Exposição Internacional do Surrealismo de 1938, iniciada em 17 de janeiro, buscava justamente deixar o surrealismo em evidência, chamando a atenção para suas características mais marcantes.
Essa exposição foi a grande oportunidade que muitos artistas tiveram de se revelar e apresentar sua proposta. E nesta ocasião específica, todos os visitantes seriam convidados não apenas a mergulhar nas obras, mas também na própria mente.
Logo na entrada, a visão de 16 manequins decorados instigava o público a refletir sobre o feminino e o desejo. Placas com indicações de ruas reais e imaginárias também ganharam forma, indo além das pinturas presentes na exposição.
Depois de serem recepcionados, os visitantes ainda eram conduzidos ao interior de uma gruta, que tinha um pequeno lago artificial, onde mais uma história era contada. Ali, o confinamento em um espaço com um teto aparentemente frágil parecia irradiar claustrofobia. Trava-se, portanto, de uma experiência sensorial.
O surrealismo valorizava o inconsciente e a espontaneidade por excelência. Mas mesmo tendo se manifestado desde a década de 1920, levou certo tempo para ganhar forma e se tornar mais conhecido.
Klee, Picasso, Duchamp e Salvador Dali são alguns dos grandes nomes que evidenciaram, cada um da própria forma, a expressividade e a provocação do movimento. Muitas obras ainda mostram como o surrealismo se associava ao mundo onírico, a exemplo das pinturas de René Magritte.
De certa forma, a Exposição Internacional do Surrealismo de 1938 permitiu que a arte se mostrasse livre e imersiva da maneira como se apresenta hoje, diante dos nossos olhos. Presente em pinturas, esculturas, na música, no cinema e na literatura, o surrealismo também se relacionou de forma íntima com a filosofia e a psicanálise.
E se na exposição ficava visível como a histeria fazia parte desse movimento artístico, dotado de tantas nuances, definitivamente não era por acaso. Afinal, o mundo parecia estar impregnado dela naquele momento.
Apesar de inusitada, caótica e provocativa, a Exposição Internacional do Surrealismo foi considerada um marco. Em seu primeiro dia, três mil pessoas compareceram. O evento, visto como exagerado pela crítica, moldou o rumo da história da arte. E mesmo não tendo sido a primeira exposição surrealista, foi a mais expressiva de todas.
Talvez parte do que ela tinha a oferecer acabou passando despercebido naquele período. Um olhar mais atento, inclusive, seria capaz de notar como algumas obras também apresentavam um forte viés político. O próprio espetáculo estava dominado por uma atmosfera sombria.
E como pouco tempo depois, a Segunda Guerra Mundial eclodiu, pode-se dizer que a exposição foi a última grande pulsação do movimento, ameaçado pelo avanço dos regimes totalitários e pelo próprio andar do conflito.