Ciência
22/07/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 22/07/2024 às 08:00
A influência portuguesa no Japão, especialmente durante o período comercial Nanban (séculos XVI e XVII), é um capítulo fascinante da história que mostra como culturas distantes podem se entrelaçar de maneiras surpreendentes. O termo "Nanban", inclusive, significa "bárbaros do Sul", dado que os japoneses viam esses europeus recém-chegados como pouco civilizados. Mesmo assim, os portugueses marcaram a sociedade da Terra do Sol Nascente.
Quando os navegadores portugueses chegaram à costa japonesa em 1543, eles não só estabeleceram uma rota de comércio entre o Japão e a Europa, mas também plantaram as sementes de uma rica troca cultural que inclui desde palavras no vocabulário japonês até aspectos na gastronomia e arquitetura.
Foi nesse contexto de expansão comercial que os jesuítas começaram sua missão de catequização no Japão, introduzindo o cristianismo e, com ele, muitas palavras portuguesas no vocabulário japonês. Termos como pan para "pão" e tabako para "tabaco" são apenas alguns exemplos de palavras que se tornaram parte do idioma japonês.
O primeiro contato entre japoneses e portugueses ocorreu em Tanegashima, uma ilhota ao sul do Japão. Foi ali que o Japão, na época sob o domínio do xogunato, conheceu pela primeira vez as armas de fogo europeias, que impressionaram os xoguns. Tanto que uma dessas armas, algo parecido com um bacamarte, recebeu o nome de Tanegashima, uma homenagem ao local desse primeiro encontro.
Inicialmente, os portugueses foram bem recebidos e puderam estabelecer missões e escolas cristãs, difundindo sua fé e cultura. Esse contato gerou a incorporação de muitas palavras de origem portuguesa ao vocabulário japonês. Eis alguns exemplos:
Essas são apenas algumas palavras, sendo que há outros termos e expressões que foram entranhados na cultura japonesa e continuam até hoje. A influência também é perceptível em outras áreas, como na música e na literatura, com a tradução e introdução de obras ocidentais no Japão.
A influência portuguesa no Japão não se restringiu apenas ao vocabulário. A introdução de novos alimentos, como o pão e o açúcar, e a adaptação de pratos como o tempura, originalmente um prato de peixe e legumes empanados e fritos consumido pelos católicos portugueses durante a Quaresma, são testemunhos dessa interação culinária.
Além disso, práticas religiosas e costumes trazidos pelos jesuítas, como o jejum e o uso de instrumentos musicais ocidentais, também foram incorporados pela cultura japonesa.
A adaptação dos missionários jesuítas aos costumes locais, estudando a língua e escrevendo catecismos em japonês, ajudou a aumentar o número de conversões. No auge da evangelização, estima-se que havia cerca de 300 mil cristãos no Japão.
Porém, essa prosperidade foi interrompida quando as autoridades japonesas começaram a ver o cristianismo como uma ameaça à unificação e estabilidade do país, levando a perseguições e martírios.
Esse intenso intercâmbio durou até meados da década de 1630, quando a crescente desconfiança das autoridades japonesas em relação à influência estrangeira levou à expulsão dos missionários e à proibição do cristianismo.
A partir daí, o Japão adotou uma política isolacionista, limitando o contato comercial com outros países, política essa chamada de Sakoku ("país fechado"). O fim da relação com portugueses acabou, mas a herança lusitana já havia marcado o povo japonês para sempre.