Artes/cultura
09/07/2020 às 05:00•2 min de leitura
O rato-toupeira-pelado é um animal que atrai a atenção de muitos pesquisadores do mundo. Desafiando as leis da biologia e sem ter uma aparência muito agradável, o roedor, que tem um tempo de vida incrivelmente longo, tem uma resistência única ao câncer. Isso é possível devido às condições peculiares de seu corpo, que impedem a proliferação de células comprometidas, de acordo com um estudo recente.
Até pouco tempo, a ideia era que os ratos-toupeira quase nunca tinham câncer porque as células saudáveis eram extremamente resistentes a se tornarem cancerígenas.
Entender como o câncer age nas células dos ratos-toupeira pode ser um avanço nas pesquisas.
A descoberta lança novas luzes sobre futuros estudos de prevenção contra a doença nos seres humanos. De acordo com os resultados obtidos, o microambiente (um complexo sistema de moléculas que rodeia uma célula, incluindo o sistema imunológico) desses animais é o que os torna diferentes e com características excepcionais de resistência ao câncer.
Esse microambiente é o que impede que estágios iniciais de câncer possam se desenvolver nas células e se tornem tumores. Isso significa, de acordo com a pesquisa mais recente, que a resposta não estava em um mecanismo de resistência das células saudáveis, como se pensava.
Um dos principais autores do estudo, Dr. Walid Khaled aponta que "Os resultados foram uma surpresa para a equipe e transformaram completamente nossa compreensão da resistência ao câncer em ratos-toupeira-pelados. Se pudermos entender o que há de especial no sistema imunológico desses animais e como ele os protege do câncer, poderemos desenvolver intervenções para prevenir a doença nas pessoas".
Feios e excepcionais, ratos-toupeira-pelados podem ter a chave da prevenção contra o câncer
Apesar de ser uma notícia boa, essa pesquisa com ratos-toupeira-pelados está no centro de uma briga. Pesquisadores da Universidade de Rochester (EUA), responsáveis pela análise anterior, não concordaram muito com os novos resultados, chegando a enviar uma nota à revista Nature sobre a questão.
De acordo com a equipe, os pesquisadores de Cambridge só conseguiram resultados diferentes porque introduziram seções adicionais de DNA nas células, o que resultou na produção de níveis mais altos de proteínas a partir dos genes responsáveis por causar o câncer. Isso significa que, no estudo recente e sob essa alegação, os mecanismos naturais de resistência à doença dos ratos-toupeira foram alterados. De acordo com Vera Gorbunova, da equipe estadunidense, "Na natureza, normalmente não veríamos níveis tão altos dessa expressão genética".
Já o time de Cambridge alega que ficou chocado com o método usado na pesquisa anterior, algo que foi descoberto quando tentaram aproveitar o estudo, não somente pelo fato de as células geneticamente modificadas dos ratos-toupeira terem sido trabalhadas em uma substância que suporta apenas células cancerígenas mas também porque provocaram tumores quando injetadas em ratos.