Ciência
28/07/2020 às 10:00•2 min de leitura
Além do polegar opositor, o homem possui outra característica que o possibilitou a dominar o planeta: sua quase inesgotável capacidade de adaptação. De onde ela vem é o que começou a ser descoberto por neurocientistas da Vanderbilt University, ao identificarem as células cerebrais que ajudam os humanos a mudar para permanecerem no topo.
A mancha em vermelho indica o corpo estriado, responsável pelos sistemas motor e de recompensas do cérebro.
Dentre os 86 bilhões de neurônios que o cérebro humano adulto carrega, uma pequena parte é a responsável pela chamada flexibilidade cognitiva, ou capacidade humana, de se ajustar ao ambiente. O comportamento adaptativo não significa reagir a tudo: escolhemos o que é importante no momento e o restante é desprezado.
Essa função cabe à parte anterior do corpo estriado, uma área do cérebro que avalia as ações, reações e consequentes recompensas que o ser humano pode ter.
Segundo os pesquisadores, “normalmente, as pessoas oscilam entre repetir comportamentos gratificantes e explorar o novo com recompensas potencialmente melhores. É essa a equação a qual o cérebro está constantemente tentando resolver, principalmente quando há alterações no ambiente".
O corpo estriado é uma das áreas do cérebro mais afetadas por doenças, como Alzheimer, Parkinson e epilepsia, além de estar associado à síndrome de Tourette, ao transtorno obsessivo-compulsivo e à bipolaridade.
Para medir a atividade cerebral enquanto macacos rhesus resolviam essa “equação cerebral”, foram projetados em uma tela dois círculos listrados, um com uma seta para cima e o outro com uma seta para baixo. Antes ou depois do aparecimento das setas, os círculos se tornavam verdes e vermelhos. Se o círculo verde acendia, a seta para cima indicava que o macaco deveria olhar para cima; se o fizesse, ele receberia uma recompensa.
Depois de aproximadamente 30 vezes acendendo ”verde/seta para cima” e “vermelho/seta para baixo" as cores foram trocadas: o vermelho tornou-se a cor para a ação. Depois de uma série de mais 30 sinais, as cores novamente mudaram e, a cada mudança, os macacos precisavam treinar sua resposta à cor para agir. Durante todo o processo, os pesquisadores registraram a atividade elétrica de 350 neurônios no corpo estriado.
No esquema, pode-se ver o desempenho dos dois macacos rhesus usados no experimento.
O resultado foi a identificação de dois tipos de células cerebrais que respondem de maneira diversa, mas complementar às mudanças apresentadas. Um padrão chamou a atenção da equipe: a atividade dos neurônios aumentava em meio à mudança e diminuía à medida que o animal adquiria mais confiança no resultado de sua ação.
"Esses neurônios parecem ajudar os circuitos cerebrais a se reconfigurar, facilitando a transição de informações anteriormente relevantes para as novas e importantes", explicou o neurocientista Kianoush Banaie Boroujeni, coautor do estudo agora publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O neurocientista Kianoush Banaie Boroujeni explica os resultados alcançados com o experimento.
Para o principal pesquisador do estudo, o psicólogo e neurocientista Thilo Womelsdorf, essa descoberta abre campos para o entendimento de algumas doenças neurológicas, bem como de distúrbios neuropsiquiátricos e possíveis tratamentos.
"O enfraquecimento dessas células cerebrais pode resultar em comportamentos obsessivo-compulsivos ou em uma luta para se ajustar a novas situações. No extremo oposto, a atenção se dispersa, e as pessoas experimentam um mundo sempre incerto, por serem incapazes de se concentrar em informações importantes".
Neurocientistas descobrem o que permite ao ser humano se adaptar via TecMundo