Ciência
06/09/2020 às 10:00•2 min de leitura
Nesta quarta-feira (2), um estudo publicado em um periódico científico estadunidense trouxe luz a uma questão importante relacionada à mobilidade urbana: além dos veículos automotivos, considerados os vilões da poluição aérea das cidades, há outros elementos nas cidades a considerar quando o assunto é saúde e meio ambiente.
Os cientistas concluíram que não apenas os carros são poluentes, mas a própria malha rodoviária pode ser um sério problema de saúde pública e de meio ambiente — mais que os próprios veículos, em alguns casos. Segundo um estudo publicado na Science Advances, filiada à Associação Americana para o Avanço da Ciência, trata-se de uma questão alarmante e ainda subconsiderada.
O superaquecimento do asfalto ainda é pouco considerado na análise da poluição ambiental das cidades. (Fonte: Unsplash)
Além do aquecimento global, que faz com que a temperatura média do planeta ganhe uma tendência de crescimento, as cidades se tornam panelas de pressão, sobretudo nos centros mais densos. Asfalto e cimento expostos a altas temperaturas fazem com que essas regiões se tornem ilhas de calor que, segundo o estudo coordenado pelo Departamento de Engenharia Química e Ambiental da Universidade de Yale, formam poluentes perigosos à saúde humana.
Ainda de acordo com os pesquisadores, os ambientes urbanos mais movimentados apresentam altíssimos índices de poluição em dias quentes. Nesse caso, as emissões de poluentes derivados do superaquecimento do asfalto podem trazer danos ainda mais graves do que as emissões dos escapamentos de veículos motorizados.
O estudo publicado nesta semana oferece uma contribuição importante porque, em virtude da complexidade do ambiente urbano, pode ser difícil isolar variáveis e encontrar relações de causa e efeito nos problemas encontrados. Como as tintas e os gases emitidos por automóveis produzem efeitos similares, eles podem maquiar o impacto de outros elementos sobre o meio ambiente e a saúde.
Diversificar e otimizar a malha viária é uma necessidade para grandes cidades. (Fonte: Pixabay)
Esse é mais um elemento a considerar quando se analisa a cultura de deslocamento hegemônica, centrada em automóveis. Eles são caros (custam muito para transportar poucas pessoas), poluentes e não contribuem para a saúde, seja em virtude da poluição, seja porque tornam as pessoas mais sedentárias.
Por isso, o planejamento urbano precisa pensar em usar novos modais, com estruturas diferentes, a exemplo do que ocorre com os VLTs (veículo leve sobre trilho), e também otimizar a malha rodoviária existente. Apostar no transporte coletivo faz com que uma mesma estrutura seja usada por menos veículos, que transportam mais pessoas e são menos poluentes do que uma série de automóveis na via.
Dessa forma, o estudo se soma a uma série de conclusões de especialistas que apostam na necessidade de outra matriz de mobilidade: outros veículos e outra estrutura viária. Daí porque as bicicletas são as queridinhas de quem sonha com uma cidade mais sustentável.