Ciência
23/09/2020 às 03:00•2 min de leitura
Puxe o ar pelo nariz e encha seus pulmões, depois solte o ar pela boca... Não, isso não é um vídeo de meditação. A gente só está refletindo sobre como os seres humanos – e outros animais, como nós — respiram. Tudo isso para dizer que as bactérias respiram de uma forma bem diferente. Algumas, inclusive, exalam eletricidade quando fazem isso.
É isso aí. Assim como a gente exala gás carbônico cada vez que solta o ar, há bactérias que soltam eletricidade. São espécies do gênero Geobacter, relativamente comuns em águas subterrâneas. Claro que, sendo uma bactéria muito pequena, não é como se ela fosse um gerador da usina de Itaipu... Mas, sim, ela inspira o material orgânico do ambiente em que vive e expira elétrons, que formam uma minúscula corrente elétrica.
O que mais interessa os cientistas, contudo, é entender como a Geobacter produz e emite eletricidade. Assim, quem sabe, seria possível aproveitar a bactéria como um gerador biológico e natural. Nesse sentido, um estudo publicado recentemente por pesquisadores da Universidade de Yale e divulgado na revista Nature Chemical Biology, fez descobertas bem interessantes.
A ciência já sabia que a Geobacter exalava seus elétrons por estruturas chamadas de "nanofios": filamentos 100 mil vezes menores que um fio de cabelo humano, mas muito maiores do que o próprio micróbio. Esses nanofios são capazes de enviar os elétrons para distâncias equivalentes ao tamanho de milhares de bactérias — é como se você conseguisse soprar por mais de um quilômetro.
A bactéria "sopra" tão longe para que esses elétrons possam ser absorvidos por algum mineral (geralmente óxido de ferro), que pode não estar tão próximo. Quando ela está em ambientes especialmente inóspitos, surgem adaptações para "soprar" elétrons ainda mais longe. E aí que surgem ideias para tentar aproveitar essa eletricidade.
Se você assistia ou jogava Pokémon, você deve lembrar do Magnemite, uma espécie que lembrava um imã. Quando ele se juntava com outros Magnemites, ele evoluía para Magneton, que era mais forte e tinha mais eletricidade. Por que estamos contando isso?
Bom, porque é mais ou menos isso que algumas espécies do gênero Geobacter fazem.
Quando expostas à eletricidade, bactérias Geobacter sulfurreducens se "grudam" em grupos com centenas de indivíduos. Assim, elas conseguem expirar seus elétrons para distâncias ainda maiores do que poderiam sozinhas. Na natureza, isso funciona como uma estratégia de sobrevivência. Para nós, pode significar o uso desses micróbios como baterias biológicas.
Isso porque as bactérias emitem muito pouca energia, naturalmente. Uma célula de combustível de Geobacter feita em 2008 emitiu apenas 36 miliwatts. Um miliwatt é um milésimo de watt e qualquer carregador de celular tem pelo menos 5 watts, então dá para fazer as contas e entender que 36 miliwatts é bem pouco, né?
Portanto, os cientistas precisam entender esses mecanismos — e saber como amplificar a geração de energia das bactérias — antes que seu celular possa vir com uma bateria feita de micróbios dentro dele. De qualquer forma, a pesquisa publicada agora deu um grande passo nesse sentido.