Ciência
06/02/2021 às 15:00•3 min de leitura
Normalmente, as vítimas de Ted Bundy eram mulheres jovens e consideradas atraentes, que ele encontrava na saída de universidades, escolas, confraternizações e parques na década de 1970 nos Estados Unidos.
Carismático, charmoso e bonito, Bundy usava esses atributos para abordar as mulheres fingindo precisar de ajuda para carregar livros ou sacolas de compras até seu carro, alegando que sofria de alguma lesão e, por isso, ele costumava imobilizar um dos braços em uma tipoia ou engessá-lo. Assim que elas chegavam até o automóvel, o homem as agredia até que perdessem a consciência e depois as levava para seu cativeiro.
Em 1980, o assassino canibal Jeffrey Dahmer vasculhava as boates e as saunas gays da populosa cidade de Milwaukee, no Wisconsin (EUA), à procura de homens que pudesse seduzir. Então, ele os levava para sua casa e os drogava para cometer estupros, espancamentos e executá-los, geralmente por estrangulamento.
Enquanto isso, o médico assassino britânico Harold Shipman, que fez mais de 200 vítimas entre 1970 e o final da década de 1990, era mais simples em sua abordagem. Quando seus pacientes, em sua maioria mulheres idosas, chegavam ao seu consultório, ele injetava uma dose letal de heroína em suas veias fingindo que faria uma coleta de amostras de sangue. Depois, ele alterava os relatórios médicos para parecer que eles tinham morrido de complicações de alguma doença grave.
Modus operandi e a “assinatura do crime” são dois termos frequentemente usados quando o assunto é serial killers. Por vezes, em reportagens, séries, livros e outros meios de informação, essas palavras são ditas sem nenhuma explicação do que significam, tampouco há esclarecimento da relação que apresentam entre si.
Ambos os termos fazem parte de uma dicotomia desenvolvida por Roy Hazelwood — um ex-agente do FBI pioneiro em traçar o perfil de assassinos em série e predadores sexuais — que se baseia no fato de o agressor ser organizado ou desorganizado em seus crimes.
A partir de estudos de perfis ao longo dos anos e de análises de padrões de conduta dos criminosos, concluiu-se que os assassinos organizados costumam ser de classe média, atraentes, muito inteligentes, controlados e educados, que normalmente seduzem suas vítimas por meio de seu charme e jeito empático. Além disso, eles pensam meticulosamente do ataque à execução, vasculhando a cena do crime para que pouca ou nenhuma evidência seja encontrada — e Ted Bundy tinha esse perfil.
Por outro lado, os desorganizados geralmente são impulsivos, oriundos de um lar instável onde há muita pobreza e sofreram abuso sexual ou físico de parentes; portanto, tendem a ser sexualmente inibidos e a ter distúrbios sexuais, como aversões. Eles normalmente são mais jovens, com baixo grau intelectual, apatia e falta de habilidades sociais e, por isso, costumam cometer os crimes sob influência de álcool ou drogas, deixando muita pista depois de um crime. Jeffrey Dahmer tinha esse estilo. Ele matou Steven Tuomi em 20 de novembro de 1987, no Hotel Ambassador, sem ter nenhuma memória de como o fez.
A expressão em latim modus operandi significa “modo de operação” e se refere a um comportamento aprendido, que está sujeito a mudanças e refinamento, dependendo de vários fatores, principalmente se algo começa a não dar certo durante a execução dos crimes. Em linhas gerais, é todo o método de hábitos, técnicas, ferramentas e outros tipos de comportamento que os assassinos desenvolvem para abordar suas vítimas e matá-las.
Portanto, o conjunto de características de como os três homens citados acima — Bundy, Dahmer e Shipmann — abordavam e matavam suas vítimas é denominado de modus operandi. No final das contas, um assassino só estabelecerá um padrão em seu modo de operação se executar o crime perfeito, enquanto isso ele vai continuar ajustando detalhes. É basicamente um jogo de tentativa e erro para atingir o “sucesso”.
Depois que as vítimas eram mortas, Bundy costumava manter os cadáveres por vários dias, então lavava o cabelo deles e fazia uma maquiagem, antes de decapitar e introduzir objetos em suas vaginas. Essa era a assinatura dele, um registro de que aquele tipo de comportamento o pertencia.
A assinatura de um assassino diz respeito a parte mais profunda de sua psique e está relacionada ao que o satisfaz emocionalmente, além de ser uma forma de expressar travas psicológicas que foram essenciais para construir um comportamento limítrofe.
Os especialistas em criminologia também definem a assinatura de um crime como uma espécie de “ritual”, que serve para externar as fantasias mais sombrias de um assassino e que fica marcado por sua repetição.
Assim, a tortura pode ser considerada um tipo de assinatura, visto que o criminoso só tortura a vítima para satisfazer um sadismo emocional. Além disso, onde e como o corpo vai ser encontrado é um reforço essencial que distingue o modus operandi de uma assinatura. Se o desejo final do assassino antes de se livrar do cadáver for de como as pessoas ou a polícia vão encontrá-lo, então ali se estabelece a sua assinatura.
Um tipo muito específico de arma usado no crime, o local e o nível da lesão de modo repetitivo e excessivo no cadáver, bem como itens coletados da vítima, ejaculação, micção ou defecação na cena do crime, como também os mesmos objetos deixados para trás são comportamentos que apresentam uma assinatura criminosa.
Muito embora todo assassino tenha um modus operandi, nem todos possuem uma assinatura de crime.