Mapas de calor da NASA: uma arma para combater o aquecimento global

28/10/2021 às 14:564 min de leitura

Mapas de calor, como os feitos pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), são ferramentas imprescindíveis no monitoramento do clima e da natureza. Recorrendo à tecnologia de última geração, é possível obtermos imagens feitas por satélites que mostram com detalhes as condições climáticas de determinadas regiões do mundo e, mais importante do que isso, registram as mudanças climáticas que tanto ameaçam ecossistemas inteiros e a vida do ser humano na Terra.

Para entender melhor como esses mapas de calor funcionam e de que modo é possível utilizá-los no meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas, o Mega Curioso conversou com o professor de Geografia Baker Perry, da Appalachian State University e explorador da National Geographic.

Habitamos um mundo muito diferente daquele onde vivemos anos atrás

“Os mapas de calor feitos pela NASA mostram que habitamos um mundo muito diferente daquele onde vivemos anos atrás”, afirmou Perry ao ser questionado sobre como essa ferramenta pode ser importante para entendermos o clima atual. “Estamos mais quentes do que antes, e áreas específicas do planeta se aqueceram muito mais do que a média global”.

Aquecimento global acelerado

Desde 1880, a temperatura média da superfície da Terra vinha crescendo 0,07 °C a cada década. Porém, a partir de 1981, esse valor subiu para 0,18 °C, o que parece pouco, mas é extremamente relevante. No total, desde o século XIX, a média da temperatura do planeta subiu 1,18 °C, uma mudança impulsionada em grande parte pelo aumento das emissões de dióxido de carbono na atmosfera e outras atividades humanas.

A maior parte do aquecimento ocorreu nos últimos 40 anos, com os 7 anos mais recentes sendo os mais quentes de todo o período registrado até hoje. Os anos de 2016 e 2020 estão empatados como os anos mais quentes já medidos.

E a Era do Gelo?

Antes que falem que tudo isso se trata de um ciclo natural de aquecimento e resfriamento da Terra, tendo a famosa “Era do Gelo” como referência, podemos usar dados concretos para mostrar que o problema é muito pior e de origem artificial.

As áreas mais geladas do mundo sofreram um aquecimento tremendo

Nos últimos 650 mil anos, 7 ciclos de avanço e recesso glacial aconteceram na Terra, com o fim da última Era do Gelo tendo acontecido há cerca de 11,7 mil anos. Quando comparamos os níveis estimados de dióxido de carbono na atmosfera, a marca de 300 partes por milhão nunca havia sido ultrapassada em nenhum desses ciclos. O valor foi superado no ano de 1950 e de lá até hoje apenas nunca mais diminuiu como já bateu as 400 partes por milhão, além de continuar subindo vertiginosamente.

asdEsse gráfico, baseado na comparação de amostras atmosféricas contidas em núcleos de gelo e medições diretas mais recentes, fornece evidências de que o COatmosférico aumentou desde a Revolução Industrial. (Fonte: NASA)

“Áreas mais geladas do mundo, como o Oceano Ártico, parte norte da América do Norte, Sibéria, todas elas sofreram um aquecimento tremendo”, contou Perry. Para o especialista, as grandes mudanças nessas áreas, com a perda de grandes massas de gelo, são reflexo direto dessa alteração na temperatura média da atmosfera.

O tempo ficou “doido”?

Todo esse clima “maluco”, como muitas pessoas enxergam temporadas quentes durante o inverno ou climas secos quando deveria estar chovendo, entre outros aspectos, também é reflexo do aquecimento global.

“Sempre houve um certo grau de variação no clima, mas evidências fazem que a comunidade científica concorde que estamos vendo cada vez mais climas extremos, especialmente no que diz respeito à quantidade de chuvas e, por consequência, alagamentos”, explicou Perry. “O aumento do calor faz que mais água evapore e mais tempestades aconteçam”, ele concluiu.

As mudanças no Ártico também estão diretamente relacionadas a esses problemas climáticos. O ciclo funciona assim: o derretimento das calotas no polo gera correntes de ar mais “onduladas”, que se estendem mais para o Sul e não se movem rapidamente como deveriam. Isso faz as ondas de calor no Hemisfério Norte serem mais duradouras e as altas temperaturas aumentarem a precipitação. Paradoxalmente, essas tempestades vão, posteriormente, favorecer temperaturas frias mais extremas em outra estação ou locais diferentes, ou seja, o clima está mesmo ficando “louco” e isso é preocupante.

A ciência do nosso lado

Se tudo isso está acontecendo, como explicar para as pessoas que o aquecimento global é uma realidade em um contexto em que a ciência é cada vez menos levada a sério?

“Uma abordagem possível é contar histórias sobre como as pessoas são afetadas por isso. Em minhas aulas, falo sobre experiências próprias em ver paisagens, como a do Himalaia, dos Andes e de outras cadeias de montanhas, completamente alteradas, com geleiras que retraíram ou, em alguns casos, até desapareceram”, conta o explorador. “Mas mais do que isso, devemos falar sobre como isso impactou diretamente pessoas e comunidades que vivem nesses locais”.

Para Perry, o mais importante na hora de enfrentar a negação da ciência é construir relações saudáveis com as pessoas e derrubar barreiras que nos separam. “Podemos usar mapas como esses e nos aprofundar nos dados, conversar a respeito deles, ver de onde vieram, o que querem dizer, olhar para os padrões e para o fato de que essa é a melhor compreensão que temos sobre as mudanças climáticas”, ele falou.

Quem é o culpado pelo aquecimento global?

Quem é bem-informado e entende minimamente de aquecimento global sabe que os abusos do mundo moderno colaboram demais para isso tudo ocorer. Mas o quanto da culpa é nossa como indivíduos — tomando banhos demorados, usando aquecedor no inverno e ar-condicionado no verão — e quanto isso é causado por grandes empresas, fábricas, instituições de produção massiva que afetam ativamente o meio ambiente?

Quanto mais os indivíduos e as famílias tomarem atitudes para viver de maneira mais sustentável, melhor

Para Perry, é menos uma questão de quem é o culpado e mais de quem deve se conscientizar: “O esforço tem que ser feito em todos os níveis. Quanto mais os indivíduos e as famílias tomarem atitudes para viver de maneira mais sustentável, melhor, isso é importante. E quanto mais isso acontecer, mais pessoas vão cobrar as grandes corporações de tomarem medidas de prevenção, trabalhando em paralelo como instituição e sociedade, tanto para um bem ecológico quanto para o próprio bem econômico”.

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