Ciência
11/08/2022 às 13:00•3 min de leitura
O psicólogo americano Harry Harlow ficou conhecido por conta de seus experimentos: ele fazia alguns testes com macacos rhesus para entender como os bebês desenvolvem conexões amorosas com suas mães. Para isso, ele criou experiências (que se tornaram bastante controversas) em que os pequenos filhotes de macacos interagiam com "mães" substitutas feitas de pano ou de arame.
Nesta época, os cientistas ainda acreditavam que a conexão dos bebês com suas mães se dava pela necessidade de conseguir comida: seria, portante, um instinto de sobrevivência. Por conta disso, alguns psicólogos recomendavam aos pais que não "confortassem" muito os seus filhos para que eles não se tornassem dependentes.
No entanto, os experimentos de Harlow revelaram outra coisa: quando os macaquinhos tinham que escolher entre uma mãe de arame com leite e uma mãe de pano sem leite, eles preferiam se agarrar à mãe de pano. Ele ainda provou que os bebês que viviam isolados dos pais não conseguiam desenvolver certas habilidades sociais.
(Fonte: University of Wisconsin)
Harry Harlow nasceu em 1905 no estado de Iowa, nos Estados Unidos. Ele era uma criança brilhante, porém entediada, que passou por algum sofrimento por conta da doença sofrida por seu irmão, Delmer — que, segundo ele escreveu em sua biografia, teria feito que sentisse falta do afeto materno.
(Fonte: Verywell Mind)
Em 1957, Harry Harlow começaria um experimento com macacos rhesus que seria bastante polêmico, mas também o tornaria famoso. Muitos psicólogos da época — em especial, os behavioristas — viam o afeto excessivo como perigoso para as crianças, pois elas se tornariam dependentes.
Harlow quis explorar esta questão, e começou uma série de testes com macacos bebês em seu laboratório. Primeiramente, ele criou alguns filhotes de macaco em completo isolamento. O que ele observou é que, crescendo sozinhos, os macacos se machucavam e pareciam sempre perdidos. Eventualmente, um parava de comer e morria.
Mas ele também notou que esses macacos se agarravam às fraldas de pano, o que os levou para outra fase do estudo: ele começou a colocar "mães" substitutas para os filhotes. Uma era de arame e outra, feita de pano.
Às vezes, a mãe de arame tinha uma mamadeira; às vezes, a mãe de pano. O que Harlow notou é que os bebês macacos passavam sempre mais tempo com a mãe de pano, mesmo quando ela não tinha leite. Eles podiam se aproximar da mãe de arame para mamar, mas logo voltavam para a de pano.
Ele ainda notou que a mera presença da mãe deixou os bebês mais confiantes: eles eram capazes de explorar mais o território pelo simples fato de a mãe estar lá. Quando eram colocados em um lugar sem a mãe, os macacos gritavam e choravam de medo.
(Fonte: Madison.com)
Estes estudos serviram para refutar uma certeza circulante entre os cientistas da época, de que o contato entre mãe e bebê não era importante. Para contrapor isso, Harlow desenvolveu um conceito que chamou de "conforto de contato": quando isso era oferecido aos filhotes (sejam macacos ou humanos), eles tendiam a crescer melhor e serem bem ajustados à sociedade.
No entanto, alguns de seus experimentos foram refutados e considerados antiéticos. Ao separar os filhotes de macaco de suas mães, o psicólogo teria causado um dano irreparável a eles. Mas Harlow se defendeu dizendo que este recurso foi essencial para entender o funcionamento do amor, uma das emoções mais poderosas que existem.
Ele escreveu: "O amor é um estado maravilhoso, profundo, terno e recompensador. Por sua natureza íntima e pessoal, é considerado por alguns como um tema impróprio para pesquisas experimentais. Mas, quaisquer que sejam nossos sentimentos pessoais, nossa missão como psicólogos é analisar todas as facetas do comportamento humano e animal em suas variáveis componentes".