Paradoxo de Peto: a evolução e o câncer em grandes animais

20/01/2023 às 02:002 min de leitura

Câncer é o termo genérico utilizado para diferentes doenças causadas por um crescimento descontrolado de células. Isso acontece porque sempre que ocorre o processo de divisão celular, um grande número de pares de bases de DNA precisam ser copiados — em humanos são cerca de 6 bilhões de pares. 

Assim, é relativamente comum que alguns erros ocorram durante a divisão, criando mutações nas nossas células. Na maioria dos casos, esses erros afetam genes que não impactam diretamente na nossa vida. Porém, em algumas situações, podem ocorrer mutações em genes que controlam a proliferação celular, reparo do DNA ou apoptose (morte celular). 

Nesses casos, a consequência pode ser o desenvolvimento de um tumor (benigno ou maligno). E foi isso que fez com que alguns cientistas decidissem observar se havia alguma relação entre tamanho corporal e tempo de vida com a incidência de câncer em diferentes espécies. Por mais que em um primeiro momento essa associação possa fazer sentido, na prática isso ela não é observada.

O Paradoxo de Peto

Richard Peto. (Fonte: BBC)Richard Peto. (Fonte: BBC)

Richard Peto é um epidemiologista britânico que decidiu verificar a relação entre o tempo e o câncer quando estudava tumores em camundongos. Toda a ideia por trás do paradoxo é que, na teoria, espécies que vivem mais, teriam mais tempo para desenvolver câncer. A mesma lógica deveria ser observada em animais maiores, que por possuírem mais células, também poderiam ter mais chance de ter algum tipo de câncer.

Peto se perguntou por que os humanos contêm 1.000 vezes mais células e tem uma média de vida 30 vezes maior que a dos camundongos, mas não sofrem probabilidades muito maiores de desenvolver câncer. Foi esse questionamento que deu origem ao Paradoxo de Peto, e a sua explicação tem a ver com a evolução das espécies.

Ao longo da evolução, os animais desenvolveram alguns mecanismos para impedir — ou dificultar — o surgimento ou o desenvolvimento de câncer. Um desses mecanismos é a proteína P53 (também conhecido como TP53 ou proteína de tumor). Ela possui um gene que ajuda a controlar todo o processo de divisão celular e pode inibir o crescimento descontrolado.

O genoma humano contém apenas uma cópia da P53, sendo que os dois alelos precisam ser funcionais para acontecer uma verificação adequadas da progressão do câncer. Já um elefante africano contém 20 cópias da proteína P53. Isso significa que a genética desses animais é muito mais eficaz no combate a erros celulares que podem resultar em um câncer. E esse é um padrão que se repete em outros animais. 

Por que não acontece com todos os seres vivos?

Baleia-da-groelândia. (Fonte: Wikimedia Commons)Baleia-da-groelândia. (Fonte: Wikimedia Commons)

A baleia-da-groelândia, por exemplo, é capaz de viver mais de 200 anos e pode chegar a 18 metros de comprimento. Esses mamíferos — assim como a maior parte dos cetáceos — desenvolveram diferentes recursos genéticos para poder combater o câncer, assim como aconteceu com os elefantes.

O problema é que esses mecanismos naturais cobram um preço. O funcionamento desses genes demanda um gasto energético considerável. Baleias são seres vivos que possuem um metabolismo lento, e isso ajuda a compensar a energia necessária para a ativação de mais genes que podem combater um câncer.

Para pequenos mamíferos, que vivem menos ou possuem menos células, desenvolver vários genes com essa capacidade não seria vantajoso. Ou seja, há uma certa compensação evolutiva para que animais possam crescer ou viver mais. Mas no caso de animais que consomem mais energia por outros motivos, o risco de desenvolver um câncer não justificaria ter mais genes para evitar essas doenças.

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