Ciência
21/03/2023 às 02:00•2 min de leitura
Ao norte do Mar Vermelho, um grande fenômeno chama a atenção de pesquisadores: o mar fica cheio de vida e cor durante o dia, mas muda drasticamente de cenário quando a noite cai. Esse evento ocorre pelo menos uma vez por ano para uma infinidade de espécies de corais, sobretudo após noites de Lua cheia.
Segundo pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, os corais geralmente desovam à tarde e à noite em uma janela apertada de 10 minutos — soltando feixes coloridos belíssimos pelo mar. Esse processo, no entanto, seria controlado pelos ciclos lunares, algo que já é observado por estudiosos há séculos. Entenda mais sobre esse fenômeno!
(Fonte: Repositório de imagens NZN)
Em 1492, Cristóvão Colombo foi responsável por encontrar uma espécie de verme marinho brilhante envolvido em uma dança de acasalamento lunar. Com o passar dos anos, constatou-se que diversos animais, como os mexilhões, corais, vermes poliquetas e certos peixes, costumam sincronizar seu comportamento reprodutivo com a Lua.
E como isso funciona? A razão crucial para esse processo acontecer se dá pelo fato de tais animais liberarem seus óvulos antes que ocorra a fertilização. Sendo assim, é preciso calcular o momento exato para que haja uma sincronização máxima de encontros entre óvulos e espermatozoides.
Por séculos, esse fenômeno seguiu sendo um mistério. Pesquisas recentes, no entanto, têm se aproximado da compreensão. O que se sabe há pelo menos 15 anos é que os corais, como muitas outras espécies, possuem proteínas sensíveis à luz chamadas criptocromos. Portanto, o melhor momento para desencadear a desova seria no maior período de escuridão do mar, entre o pôr do Sol e o nascer da Lua.
(Fonte: Repositório de imagens NZN)
Através da análise do verme de cerdas marinhas Platynereis dumerilii, que é oriundo da Baía de Nápoles, pesquisadores da Universidade de Viena constataram que essa criatura desova por alguns dias após a Lua cheia durante sua estação reprodutiva. Nessa fase, os vermes adultos sobrem em massa à superfície da água em uma hora mais escura, iniciando uma dança nupcial e liberando seus gametas.
Após a reprodução, os vermes explodem e morrem. Sem essa noção de escuridão, a espécie estaria fadada a desaparecer da Terra. Mas quais ferramentas são usadas para isso? De acordo com os cientistas, é como se esses animais funcionassem baseados em um calendário. Porém, esse calendário não aponta dias, mas sim as fases da Lua.
O sucesso dessa operação viria por meio de uma proteína chamada L-Cry, que é capaz de distinguir a luz do Sol da luz da Lua. O papel é crucial, visto que as criaturas precisam ser capazes de acompanhar os padrões da lua em seu ciclo de aproximadamente 29,5 dias - da Lua cheia até a Lua minguante — para sincronizarem entre si e conseguirem reproduzir na mesma noite.
Na ausência da L-Cry, a maioria desses animais marinhos demonstraram não conseguir discriminar adequadamente. Porém, visto que esses "sensores" são otimizados para identificar momentos de pouca luz, os cientistas acreditam que um futuro onde o planeta é poluído por grandes quantidades de luz vindo de metrópoles pode ser extremamente prejudicial para a renovação dessas espécies.