'Viróvoro': descoberto organismo que se alimenta de vírus

23/03/2023 às 04:002 min de leitura

Em dezembro de 2022, o microbiologista John DeLong, da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, publicou seu estudo final no PNAS sobre um micróbio que se alimenta apenas de vírus.

Da classe dos viróvoros, o organismo, até então desconhecido, é um ciliado unicelular que vive em água doce e pode se alimentar apenas com vírus e prosperar.  Uma vez que os vírus são feitos de ácidos nucleicos, muito nitrogênio e fósforo, DeLong observa que faz sentido que a natureza tenha aprendido a comê-los, pois são matérias-primas realmente boas.

O bônus nutricional

(Fonte: IFLScience/Reprodução)(Fonte: IFLScience/Reprodução)

DeLong e sua equipe chegaram a essa conclusão ao adicionar clorovírus à água de um pequeno lago cheio de micróbios. Eles observaram que o número da população de um micróbio do gênero Halteria em particular aumentou com o tempo, enquanto a quantidade de clorovírus na água despencou.

Para se certificar de que o organismo estava mesmo consumindo os vírus, seu DNA foi preenchido com corante fluorescente, que apareceu no micróbio como confirmação. O Halteria não apenas devora o vírus, como também cresce mais forte e saudável ao fazê-lo.

Cada Halteria conseguiu ingerir entre 10 mil e 1 milhão de clorovírus em um dia. Após mais de 48 horas de exposição, a carga viral despencou 100 vezes na lagoa, sendo que a população protistas cresceu uma média de 15 vezes no mesmo período.

(Fonte: WION/Reprodução)(Fonte: WION/Reprodução)

O ecologista Joshua Weitz, líder de um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Georgia sobre o papel das entidades virais no ciclo da vida, argumenta que os vírus são potencialmente nutritivos se engolidos por um micróbio que os digere e não é infectado por eles.

O crescimento saudável dos micróbios é explicado porque, em geral, vírus são compostos de material genético (DNA ou RNA) e os genomas virais são densamente embalados. E pelo material genético ser rico em fósforo, os vírus têm maior teor desse elemento do que os micróbios típicos, se tornando um bônus nutricional.

O que muda

(Fonte: Mashable India/Reprodução)(Fonte: Mashable India/Reprodução)

Esse fenômeno já muda tudo, forçando os biólogos a reexaminarem tudo o que é conhecido sobre o ciclo da vida até o momento e qual seu papel no meio ambiente, visto que, ao infectar todos os tipos de seres vivos, os vírus estouram, liberando matéria orgânica e nutrientes na atmosfera, podendo afetar os níveis de carbono e a função que desempenha nas cadeias alimentares.

Quando os clorovírus infectam as algas, fazendo com que elas explodam e liberem o carbono contido nelas de volta à água, isso impede que os herbívoros absorvam energia na cadeia alimentar por manter o carbono baixo em um tipo de camada de sopa microbiana.

Quando o vírus foi consumido pelo Halteria, o carbono armazenado dentro dele foi trabalhado de volta na cadeia alimentar conforme os organismos maiores consomem o ciliado, ajudando a equilibrar os níveis de carbono na cadeia alimentar por meio de um tipo de reciclagem natural do carbono. Ou seja, isso resulta em uma quantidade imensurável de movimento de energia.

(Fonte: NOAA/Reprodução)(Fonte: NOAA/Reprodução)

No momento, mais pesquisas estão em andamento para confirmar que o mesmo comportamento de ingestão de vírus acontece na natureza igual em um ambiente controlado como o laboratório.

Ainda assim, como ressalta Weitz, essa pesquisa já é um passo importante no avanço da ciência na compreensão das maneiras como as partículas virais estão envolvidas na movimentação de energia (e nutrientes) tanto para cima quanto para baixo nas teias alimentares microbianas – muito embora quantificar o papel do vírus como transmissor de energia e nutrientes não seja uma tarefa fácil.

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