Ciência
13/04/2023 às 12:00•2 min de leitura
Antropólogos em Portugal descobriram um crescimento ósseo raro e horrível nos restos mortais de uma mulher que viveu entre os séculos XIV e XIX. A deformidade de 8 centímetros se projetava do ponto onde um músculo se junta ao osso interno da coxa e ao púbico, causando uma dor debilitante e sérios comprometimentos à mobilidade.
O achado foi compartilhado via um artigo no Jornal Internacional de Paleopatologia em janeiro deste ano, e Sandra Assis, autora principal e antropóloga biológica da Universidade NOVA de Lisboa, afirmou ter ficado intrigada com a morfologia do enorme esporão semelhante a uma corda.
Por não detectarem nenhum tipo de fratura óssea, os pesquisadores permanecem incertos sobre a causa da horrível protuberância, porém acreditam que provavelmente foi o resultado de uma lesão muscular grave, sendo uma forma rara de algo chamado miosite ossificante traumática.
(Fonte: Sandra Assis/Reprodução)
Essa condição pode se desenvolver após um único acidente grave ou após vários ferimentos leves, e no caso desta mulher, a lesão ocorreu de seis semanas a um ano antes de sua morte, paralisando um músculo da parte interna da coxa conhecido como pectíneo, o que teria a impedido de fazer grandes movimentos ou carregar peso.
"A aparência do osso femoral sugere um processo antigo. Não temos o registro médico desta mulher, mas olhando para casos clínicos semelhantes, podemos supor que esta lesão femoral foi bastante debilitante", afirmou Assis.
A ossada foi originalmente encontrada por arqueólogos em 2002 na antiga necrópole da Igreja de São Julião, no território português, juntamente com os restos mortais de 106 adultos e 45 crianças que viveram de 600 a 200 anos atrás. O esqueleto estava incompleto e sem o fêmur esquerdo, porém, seu excelente estado de preservação ajudou a indicar que ela tinha 50 anos e 1,5 metro de altura.
(Fonte: Sandra Assis/Reprodução)
O corpo estava deitado de costas, com as mãos apoiadas na pélvis, uma moeda no antebraço esquerdo e a cabeça inclinada para a direita. E a estranha protuberância só foi vista pelos pesquisadores durante o processo de limpeza no laboratório.
Esta é a primeira vez que paleopatologistas podem documentar um caso desse tipo raro de crescimento ósseo. É importante ressaltar que, atualmente, as técnicas cirúrgicas modernas são capazes de lidar com esporões, mas isso realmente estava fora de questão para essa mulher na época em que viveu.
Por isso, essa descoberta nos permite compreender melhor as lutas físicas enfrentadas por pessoas da antiguidade que sofreram ferimentos graves e não contavam com as vantagens da medicina moderna, destacando a importância de estudar o passado para obter uma melhor compreensão da história humana e a evolução das áreas médicas.