Ciência
26/04/2023 às 10:00•2 min de leitura
Conhecidas como "monstros tully", pequenas criaturas medindo entre 30 e 40 centímetros de comprimento podem ter assombrado os oceanos da Terra há cerca de 300 milhões de anos, durante o chamado período Carbonífero. Bizarros, seus fósseis não revelaram, desde que foram descobertos em 1958, nem mesmo se o animal possuía uma coluna vertebral.
Agora, pesquisadores da Universidade de Tóquio usaram lasers 3D para investigar a morfologia única da criatura, semelhante à de um alienígena fictício, com corpo macio, olhos em hastes e uma estranha tromba se projetando do rosto, que o bicho usava para se alimentar de pequenos invertebrados.
Publicado neste mês na revista Palaeontology, o estudo descobriu "que as estruturas anteriormente consideradas miômeros [fibras musculares], cérebro trilobado, cartilagens tectais e raios das nadadeiras não são comparáveis com as dos vertebrados". Isso significa que o Tullimonstrum gregarium pode ter sido na verdade um cordado não vertebrado, como o "peixe-lanceta" ou um protostômio, como o besouro.
O conjunto de dados morfológicos em 3D afastou a hipótese de animal vertebrado.
Para testar a hipótese, até agora em vigor, de o Tullimonstrum ser um vertebrado, os pesquisadores digitalizaram mais de 150 fósseis da espécie para gerar mapas em 3D, codificando individualmente as estruturas anatômicas do animal por cores.
Especial atenção foi dedicada a uma probóscide bem preservada do animal, espécie de tromba que termina em uma boca em forma de pinça, com dentes. Com bases salientes, segundo a nova análise, esses órgãos mineralizados foram determinantes para separar definitivamente os monstros Tully dos ciclóstomos, como a lampreia, que são mais finos na base.
O que foi lido pelos autores de um estudo anterior como guelras era na verdade apenas segmentação no corpo, conforme a pesquisa atual. Mais do que propriamente definir uma taxonomia, as conclusões levantaram mais dúvidas sobre as afinidades vertebradas do Tullimonstrum.
Os fósseis do Tullimonstrum foram encontrados em leitos de água doce.
Finalmente, é importante esclarecer mais um mistério na extensa saga do monstro Tully: se o animal não é um vertebrado, conforme a pesquisa atual, como pôde seu corpo mole ser preservado nos registros fossilíferos? Enquanto as partes duras e mineralizadas são comuns (conchas, ossos e dentes), como o Tullimonstrum foi mantido através dos tempos?
A resposta está nas condições químicas especiais no ambiente de fossilização onde esses bizarros monstrinhos foram encontrados: um sítio chamado Mazon Creek localizado no estado de Illinois nos EUA. Pela qualidade impressionante de seus fósseis, o local é considerado um Konservat-lagerstätte, depósitos que preservam organismos levemente esclerotizados pela deposição de minerais e também os de corpo mole.
Definir um lugar para o monstro Tully na taxonomia das espécies é importante porque se trata de um ser tão incomum que, tão logo enquadrado em um grupo, acabará expandindo a compreensão que temos desse gênero.