Saúde/bem-estar
14/05/2023 às 05:00•2 min de leitura
Existe um extenso debate e visões opostas sobre o motivo de as pessoas usarem drogas. Algumas começam porque querem se sentir bem, outras querem um desempenho melhor nos estudos, ou no trabalho. Existe também os curiosos e aqueles que querem fazer uso só para terem uma falsa sensação de pertencimento.
O segredo das drogas é que elas estimulam partes do cérebro que fazem a pessoa se sentir bem. Mas, após um tempo, a pessoa se acostuma com a sensação de bem-estar e desperta o desejo de se manter naquilo sempre.
No entanto, muito diferente do que mentes conservadoras possam acreditar, a droga não é um tipo de "mal do século" ou apenas "coisa de joven". Muito pelo contrário, o uso da droga data de milhares de anos, começando já na Idade do Bronze – e um fio de cabelo milenar provou isso.
(Fonte: Hans Ollermann/Brooklyn Museum/Flickr/Reprodução)
Os seres humanos sempre foram obcecados por substâncias que alteram o estado da mente. Não é para menos que a estrutura megalítica mais antiga do mundo, Gobekli Tepe, na Turquia, tem cisternas gigantes onde cerveja era armazenada há 12 mil anos.
Nesse sentido, a bebida alcoólica foi usada por muito tempo como combustível e moeda de troca, sobretudo no Egito Antigo, onde os trabalhadores receberam galões de cerveja para colocar em pé as famosas pirâmides. Quando o assunto é o lado fumante da história, os citas nômades montados a cavalo trouxeram com eles a maconha dos estepes de Altai da Ásia Central para a Grécia Antiga.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um estudo publicado na revista Nature em abril desse ano combinou vários campos de estudo diferentes, de arqueologia a iconografia, para conseguir rastrear o hábito do consumo de plantas medicinais até os tempos pré-históricos. As substâncias que alteram a mente são geralmente invisíveis no registro arqueológico, com sua presença sendo inferida a partir de evidências indiretas, como tipologia e a função de certos artefatos possivelmente relacionados à prática.
Sendo assim, como os agentes psicoativos costumam permanecer preservados por milênios, a análise química que fizeram dos resíduos arqueológicos puderam fornecer evidências indiretas do consumo de drogas no passado, como os alcaloides do ópio que foram detectados em recipientes da Idade do Bronze.
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(Fonte: P. Witte/Scientific Reports/Reprodução)
Dessa vez, no entanto, os cientistas descobriram evidências diretas de que as pessoas na Europa usavam drogas psicoativas durante a Idade do Bronze, detectando traços de substâncias alcaloides que causam delírio e euforia em fios de cabelo humano datados de cerca de 3 mil anos atrás.
O chumaço de cabelo foi encontrado com outros artefatos funerários na caverna Es Càrritx, em Menorca, uma das Ilhas Baleares na costa leste da Espanha, no Mar Mediterrâneo. Ao passar por uma análise, estavam presentes os estimulantes efedrina, atropina e escopolamina – todos compostos psicoativos que podem causar desorientação, perturbação sensorial e alucinações vívidas.
(Fonte: Alfredo Dagli Orti/Shutterstock/Reprodução)
Apesar de o uso de drogas entre humanos ser uma prática conhecida a partir de pistas descobertas na Eurásia e nas Américas, foi só por meio dessa revelação que os cientistas puderam ter certeza. É possível que os nossos ancestrais da Idade do Bronze consumissem esses compostos ao comer certas plantas, como mandrágora, meimendro, macieira e pinheiro comum.
Como ressaltou a principal autora do estudo, Elisa Guerra-Doce – professora associada de pré-história da Universidade de Valladolid, na Espanha –, o motivo pelo qual essas comunidades consumiam as substâncias ainda não está totalmente claro, embora a suspeita seja que os xamãs possam tê-las usado em cerimônias religiosas.