Ciência
03/07/2023 às 06:30•2 min de leitura
No final do mês de junho, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) concedeu autorização às empresas Good Meet e Upside Foods para produzirem e comercializarem carne — de frango — cultivada em laboratório em todo o território dos Estados Unidos.
Inicialmente, a carne não estará disponível nos supermercados, mas será oferecida exclusivamente em restaurantes sofisticados, onde será apresentada como parte dos pratos servidos.
A promessa é de que esse tipo de alimento, além de não maltratar os animais em abatedouros, seja ecologicamente mais sustentável, principalmente por diminuir o uso da água e do solo.
A coleta de células pode ser feita até dos ovos. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Ao contrário carnes vegetais feitas de proteínas de plantas, a carne cultivada é desenvolvida a partir da cultura de células animais vivos, ou seja, não se trata de uma imitação de carne, mas sim de carne real. A Good Meat utiliza essa técnica inovadora para criar sua carne de frango.
Tudo começa com a coleta de uma pequena amostra de células-tronco retirada de um animal vivo. No caso da carne de frango, essas células podem ser coletadas também dos ovos e das penas. As células-tronco têm o poder de se autorreproduzir e de desenvolver tipos específicos de células, como aquelas que formam músculos ou órgãos.
Após a coleta, as células são colocadas em grandes tanques chamados biorreatores, que têm por função simular um ambiente semelhante ao do corpo do animal. Nesses tanques, as células recebem nutrientes essenciais para se multiplicarem e se desenvolverem.
À medida que as células-tronco se multiplicam, o meio de cultura é modificado para permitir que elas se diferenciem nos três principais componentes da carne, que são o músculo, a gordura e o tecido conjuntivo.
Em seguida, elas são organizadas em um "andaime" comestível que serve de suporte para que as células se organizem da forma desejada (um filé de frango, por exemplo). Além de manter as células unidas, o andaime também fornece nutrientes adicionais.
Em apenas quatro a seis semanas, a carne está pronta para consumo.
A venda da carne cultivada nos mercados não deve demorar muito. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
As empresas estão empenhadas em tornar a carne cultivada um produto cada vez mais acessível e econômico, visando possibilitar, em um prazo de até 15 anos, que o consumidor possa escolher entre carne tradicional e carne produzida em laboratório.
Contudo, em Cingapura, o produto já pode ser encontrado em vários estabelecimentos, indo desde ambientes chiques a feiras de rua. Em breve será a vez dos americanos colocarem essa opção na sua lista de compras.
A carne cultivada, de acordo com seus produtores, também traz benefícios ambientais, já que tem potencial para reduzir as emissões de carbono associadas à pecuária convencional. No entanto, alguns cientistas alertam que ainda há desafios a serem superados, como o alto consumo de energia no processo de produção.