Saúde/bem-estar
31/07/2023 às 06:30•2 min de leitura
As experiências extracorpóreas, um fenômeno observado em cerca de 5% a 10% da população mundial, tem sido relatado há séculos em diversas culturas, sem que se tenha estabelecido uma causa comum. Agora, um estudo publicado na revista Neuron pode ter, finalmente, localizado no cérebro humano a origem dessas “viagens”.
Experiências fora do corpo ocorrem em determinadas situações: sob anestesia, nas chamadas experiências de quase morte ou na paralisia do sono, distúrbio no qual o indivíduo fica temporariamente incapaz de falar ou se mover. Durante os episódios, as pessoas se sentem flutuando, até se separar do próprio corpo, e vê-lo de cima.
No estudo, a equipe da Universidade de Stanford, liderada pelo dr. Josef Parvizi, rastreou esses sintomas de dissociação até um "pedaço de cérebro com aparência de salsicha" aninhado entre os dois hemisférios: o precúneo anterior. A estrutura foi considerada crucial para transmitir a sensação de uma pessoa habitar o seu próprio corpo, ou eu corporal, segundo os autores.
(Fonte: GettyImages)
A ideia da pesquisa surgiu em 2019, quando um paciente epiléptico revelou ao dr. Parvizi que às vezes se via flutuando e agindo “como um observador de conversas” agindo dentro da sua própria mente. Em entrevista à emissora NPR, o neurocientista disse que teve um insight de que a região do paciente afetada pela epilepsia poderia ser responsável pelo estado alterado de consciência.
Após localizar no precúneo anterior as convulsões desse paciente, Parvizi e seus colegas estimularam eletricamente a mesma área eu outros oito voluntários com epilepsia, que já tinham eletrodos inseridos em seus cérebros para orientar cirurgias cerebrais. Embora não se sentissem flutuando, esses pacientes se mostraram tontos, dissociados e menos focados, como se tivessem consumido psicodélicos.
(Fonte: GettyImages)
A conclusão foi que o pré-cúneo anterior é a provável sede do senso físico de identidade de uma pessoa, ou seja, a sensação de que as experiências estão acontecendo com ela mesma, e não com outra. "Achamos que essa pode ser uma maneira de o cérebro marcar todas as experiências no ambiente como 'minhas'", disse Parvizi à NPR.
Dessa forma, diz o estudo, o sentido físico/corporal de si mesmo — o "eu" — é diferente da dimensão narrativa do si mesmo — o "mim" — que está relacionada com pensamentos, conscientes ou não, de memórias passadas ou do planejamento do futuro. Mas, quando o pré-cúneo é estimulado, as pessoas se sentem separadas dos seus pensamentos, e separadas de seus corpos.
Outros especialistas ouvidos pela emissora americana afirmaram que as descobertas apresentadas no estudo podem orientar novos tratamentos para transtornos mentais de pacientes com sintomas relacionados a dissociação. Há também perspectivas promissoras para aplicações no campo da anestesia, uma vez que as sensações produzidas por essas ondas cerebrais são parecidas com as provocadas pela droga anestésica cetamina.