Ciência
25/08/2023 às 06:30•2 min de leitura
Nas telas de cinema, Oppenheimer enche aos poucos uma tigela de vidro com bolinhas de gude, representando o urânio essencial para a bomba nuclear. Porém, a história omite que dois terços desse urânio vieram do Congo, principalmente de uma mina com mais de vinte andares de profundidade em Katanga, uma região rica em minerais.
O território sofreu terríveis consequências de seu período colonial. Durante a era do Estado Livre do Congo, no final do século XIX, sob a reivindicação do rei Leopoldo II, da Bélgica, inúmeras vidas foram perdidas. Mesmo após a transição para o nome de Congo Belga, décadas mais tarde, a região não conseguiu escapar dos abusos contínuos praticados pelos colonizadores.
A Union-Minière du Haut-Katanga, maior mineradora do país, fundada em 1906, ganhou os direitos de exploração em uma área maior que metade da Bélgica. Ali, a empresa explorou uma mina rica em urânio, mas estava atrás de rádio que era mais valorizado na época. O urânio era visto como subproduto e foi inicialmente negligenciado, até que os físicos descobriram seu potencial de energia. Assim, trabalhadores negros, tratados praticamente como escravos, extraíam e transportavam o minério.
Explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki. (Foto: Wikimedia Commons)
Do outro lado do Atlântico, em 1939, Albert Einstein alertava o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, sobre o enorme potencial do urânio como fonte de energia para bombas poderosas. O físico ainda mencionou o Congo como a fonte mais importante de urânio no planeta. Assim, a Union-Minière se tornou a principal exportadora do minério, mesmo operando minas que mais pareciam campos de prisioneiros. Os congoleses separavam o urânio manualmente, para se ter uma ideia…
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Congo Belga desempenhou um papel crucial na obtenção de urânio para a construção das bombas atômicas. Quando Hitler invadiu a França e a Bélgica, em 1940, o governador-geral do Congo declarou apoio aos Aliados, convocando tropas e trabalhadores congoleses para fornecer materiais de guerra. Muitos foram forçados a retornar às florestas para coletar borracha e minerais – algo que seus pais e avós haviam feito em precárias condições, décadas antes.
Já os mineiros enfrentavam condições difíceis, estando sujeitos a restrições de movimento e horários. Organizações por melhores salários e condições geraram uma greve massiva em 1941. Infelizmente, os confrontos foram violentos e culminaram em muitas mortes.
Os Estados Unidos obtiveram enormes quantidades de urânio do Congo por meio de acordos de extração e transporte. Até mesmo espiões foram enviados para garantir o fluxo de urânio e o controle sobre a mina. Após a guerra, a contaminação radioativa deixou impactos no solo. A independência do Congo foi conquistada apenas em 1960, marcando o fim do domínio colonial. A importância dos congoleses na história e na obtenção de urânio para as bombas atômicas foi reconhecida, apesar das circunstâncias adversas e das consequências duradouras dessa extração.