Artes/cultura
27/12/2023 às 06:30•2 min de leitura
Envelhecer tende a trazer sentimentos mistos para os seres humanos. Enquanto alguns abraçam uma nova fase da vida, outros relutam com as novas dores que inevitavelmente se tornam comuns. Contudo, um novo estudo sugere um panorama muito interessante para esse processo natural do corpo: ao atingirmos a velhice, podemos, na verdade, estar ajudando a evolução da nossa espécie.
Antes considerada uma consequência inevitável de viver num mundo turbulento, a velhice é agora considerada um mistério. Algumas espécies na natureza praticamente não mostram sinais de envelhecimento, enquanto outras apresentam sintomas mais marcantes. Porém, seria o envelhecimento um simples subproduto da biologia ou algo que nos traz uma vantagem evolutiva?
(Fonte: GettyImages)
Baseado num modelo informático desenvolvido por uma equipe do Centro de Investigação Ecológica HUN-REN, na Hungria, a nova investigação sugere que a velhice pode ser positivamente selecionada da mesma forma que outras características de uma espécie. Nos últimos anos, os cientistas analisaram a inevitabilidade do envelhecimento e a deterioração associada do corpo — tecnicamente chamada de senescência.
O que o modelo sugere é que, em determinadas situações, pode ser benéfico para uma espécie envelhecer. “O envelhecimento pode ter uma função evolutiva se houver seleção para a senescência e o nosso objetivo era descobrir essa seleção”, afirma o biólogo evolucionista Eörs Szathmáry, do Centro de Investigação Ecológica HUN-REN. Tal situação exige uma forte seleção direcional, onde as pressões evolutivas, seja de predadores ou mudanças ambientais, orientam as características numa direção.
Pesquisadores também acreditam que a seleção significativa de parentesco, onde os genes têm maior chance de serem transmitidos através da assistência de parentes, pode potencialmente auxiliar no processo igualmente. Segundo Szathmáry, é possível que num ambiente em mudança, o envelhecimento e a morte sejam mais vantajosos para os indivíduos por diminuir a competitividade dentro da espécie, o que dificultaria a sobrevivência e a reprodução de proles mais adaptadas e com melhores composições genéticas.
(Fonte: GettyImages)
Em termos gerais, o novo estudo indica que o envelhecimento natural e a morte deixam espaço para uma nova geração que poderá ter melhores combinações de genes e garantir um futuro mais saudável para sua espécie. Os pesquisadores também sugerem que ter mais gerações permanecendo durante uma senescência prolongada em organismos que são fortemente altruístas seria favorecido pela seleção de parentesco.
Por outras palavras, aqueles que ajudam os seus familiares a criar uma nova geração têm os seus genes de envelhecimento prolongado transmitidos através deles com mais frequência. “Tornou-se aceite na comunidade da biologia evolutiva que as teorias clássicas não adaptativas do envelhecimento não podem explicar todos os padrões de envelhecimento da natureza, o que significa que a explicação do envelhecimento tornou-se mais uma vez uma questão em aberto”, disse Szathmáry.
Embora os seres humanos, enquanto espécie, possam estar obcecados em parar o envelhecimento, os dados obtidos indicam que a senescência tem um papel importante a desempenhar me termos de vantagem evolutiva. Esse papel, por sua vez, ainda deverá ser mais explorado por especialistas no futuro.