Pesquisa usa isótopos para achar onde escravizados nasceram

16/01/2024 às 10:002 min de leitura

Enquanto cavavam uma trincheira para a renovação de um centro local de artes cênicas em 2013, trabalhadores da construção civil na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, surpreendentemente encontraram ossos humanos. Após a avaliação feita por legistas, foi descoberto que os restos mortais eram provenientes de um cemitério do final do século XVIII.

Contudo, a localização da escavação — juntamente das moedas, cerâmicas e contas que foram enterradas com os corpos — sugeria que os restos mortais eram de africanos escravizados. Durante anos após a descoberta inicial, cientistas e líderes comunitários passaram a trabalhar em conjunto para identificar as pessoas que ocuparam as sepulturas.

Estudando o terreno

(Fonte: Gavin McIntyre/Divulgação)(Fonte: Gavin McIntyre/Divulgação)

Para solucionar os casos, a cidade recrutou o antropólogo cultural e diretor de uma organização sem fins lucrativos Ade Offuniyin para conduzir as pesquisas. Porém, após sua morte inesperada em 2020, um grupo chamado Anson Street African Burial Ground assumiu o comando. Esse trabalho incluiu a busca de permissão da comunidade afro-americana da cidade de Charleston para extrair amostras de DNA dos restos mortais dos 36 "ancestrais" encontrados na região.

Com o consentimento da comunidade, as amostras foram analisadas e os resultados lançaram alguma luz sobre a origem desses indivíduos. Muitos deles vieram da África Centro-Ocidental, da África Ocidental ou da África Subsaariana. Descobriu-se também que um dos ancestrais tinha herança mista da África Ocidental e dos nativos americanos.

Porém, somente as amostras de DNA não eram suficientes. Para rastrear as origens com mais precisão, os pesquisadores passaram a usar uma ferramenta chamada mapeamento isotópico — que usa as variações de nêutrons de um elemento para determinar de onde ele veio. 

Mapeando o passado

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Os cientistas analisaram concentrações de isótopos de estrôncio em dentes recuperados do cemitério de Charleston, bem como outros cemitérios africanos no Brasil, México e São Martinho, para obter novas informações. Num estudo publicado em junho de 2023, eles identificaram as regiões específicas de onde provavelmente os restos mortais teriam origem.

Para o futuro, os pesquisadores pretendem usar uma variedade ainda maior de isótopos para obter mais informações, como os isótopos de oxigênio — que poderiam dizer se esses indivíduos viviam em regiões quentes e secas ou tropicais e úmidas. Com o tempo, estas descobertas ajudarão a formar uma imagem mais completa de todo o comércio transatlântico de escravos, uma vez que os investigadores debatem há muito tempo até que ponto o comércio penetrou o interior do continente americano.

Em breve, os novos estudos devem ser capazes de emparelhar dados isotópicos com outras informações, como registros de embarque, para traçar o caminho provável de uma pessoa desde o interior africano até um porto no Atlântico e depois até destinos nas Américas. Em Charleston, por sua vez, um artista criará moldes de bronze das mãos dos 36 ancestrais encontrados como forma de homenageá-los. Essas mãos ficarão sobre uma fonte cuja bacia incorporará o solo de outros cemitérios afro-americanos próximos.

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