Ciência
01/05/2024 às 09:00•3 min de leituraAtualizado em 01/05/2024 às 09:00
Mercúrio é um planeta muito peculiar no Sistema Solar. Enquanto os cientistas inicialmente previam um mundo estéril, as características como campo magnético, gelo polar e atividade vulcânica desafiam essa visão, sugerindo uma história mais complexa. Embora apenas duas missões tenham alcançado Mercúrio até agora, a chegada prevista da BepiColombo para 2025 promete expandir significativamente nosso conhecimento sobre o planeta.
Essas missões, juntamente com observações feitas da Terra, têm permitido que muitos equívocos iniciais sobre Mercúrio sejam reconsiderados, destacando suas características e fornecendo informações importantes sobre sua evolução e condições atuais.
A primeira missão a Mercúrio, Mariner 10, lançada em 1973, surpreendeu a comunidade científica ao descobrir a presença contínua de um campo magnético no planeta. O campo magnético de Mercúrio, embora cerca de 100 vezes mais fraco do que o da Terra, revela que o planeta está no fim de sua fase de desenvolvimento, caminhando para se tornar um mundo morto como Marte.
Descobertas posteriores, como aquelas feitas pela missão Messenger na década de 2010, revelaram que o campo magnético de Mercúrio está desalinhado, com o polo sul magnético deslocado do polo sul geográfico.
Mercúrio é um planeta incrivelmente massivo, e apesar de possuir um diâmetro menor que o da Lua, é mais de quatro vezes mais pesado que o nosso satélite natural — sendo o segundo planeta mais denso do Sistema Solar depois da Terra.
Sua densidade extrema é atribuída a um núcleo de ferro que compõe cerca de 60% de seu volume, enquanto o da Terra é apenas cerca de 15%. Essa estrutura interna peculiar tem gerado várias teorias sobre sua formação, incluindo a possibilidade de que sua camada externa tenha sido evaporada pelo Sol ou removida por impactos de grandes corpos celestes.
A presença de partes do manto e da crosta sugere que a colisão que deu forma ao planeta pode não ter sido frontal, mas lateral, preservando algumas de suas camadas originais. Essa configuração interna em constante agitação alimenta o campo magnético de Mercúrio.
Apesar de estar localizado nas proximidades do Sol, Mercúrio surpreendeu os pesquisadores ao revelar a presença de gelo nos polos, inicialmente detectado por sinais de radar na década de 1990 e posteriormente confirmado pela missão Messenger em 2012 como água congelada.
A topografia única do planeta, combinada com a sua órbita quase vertical, permite a existência de áreas de sombra permanente nas crateras próximas aos polos, onde as temperaturas caem o suficiente para manter o gelo estável ao longo de períodos geológicos.
A origem dessa água é provavelmente de asteroides que impactaram a superfície, e sua preservação nos polos de Mercúrio oferece aos cientistas a oportunidade de estudar gelo antigo em sua forma primitiva no sistema solar.
A topografia de Mercúrio indica evidências de atividade vulcânica no passado, com planícies brilhantes espalhadas pela sua superfície, sugerindo o acúmulo de lava que suavizou características mais antigas.
O vulcanismo magmático cessou entre um bilhão e 3,5 bilhões de anos atrás devido ao resfriamento e contração do planeta, bloqueando as rotas de escape do magma. Além disso, fossas irregulares indicam a presença de vulcões piroclásticos antigos que se autodestruíram.
Essas explosões vulcânicas provavelmente foram causadas por voláteis — substâncias que conseguem passar do estado líquido para o gasoso com muita facilidade — subterrâneos que, ao se elevarem à superfície, expandiram em volume, acumulando pressão até o vulcão explodir.
Mercúrio apresenta características únicas em sua superfície, como as cavidades, observadas pela primeira vez pelo Mariner 10 em 1975 e posteriormente pelo Messenger com alta resolução.
Acredita-se que essas cavidades sejam formadas pelo vazamento de voláteis para o espaço, já que Mercúrio, sem atmosfera, não possui processos erosivos como chuva e vento. Com uma idade média de cerca de 100 mil anos, as cavidades ainda estão em processo de formação.
Além disso, terrenos caóticos, como cristas embaralhadas, são observados em vastas extensões de terra, sugerindo possíveis processos de desestabilização devido à exalação de voláteis ou a interações complexas entre ondulações de impacto de asteroides que circundam o planeta.